Sobre Espiritismo    
Claudio C. Conti    



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A Educação e a População Mundial

Tudo Está em Tudo

A Educação

Propriedades da Matéria

Fluido Universal

A Influência do Espiritismo no Progresso

Relações Interpessoais

Espírito

Pena de Morte

Matéria

Preconceito

Princípio das Coisas

Caridade

Deus Único

150 Anos do Evangelho Segundo o Espiritismo

Quando Inicia e Termina a Expiação, a Provação e a Regeneração?

Considerações Sobre Deus e o Espírito

Reflexão

A Lei de Afinidade e Nós

Princípio Inteligente ou Espírito?

Balanço de Visitação no Site

A EDUCAÇÃO E A POPULAÇÃO MUNDIAL


23/12/2014

Atualmente o mundo se vê a braços com vários conflitos, tais como produção de alimentos em quantidade suficiente e avanço tecnológico para suprir a necessidade crescente de uma população que aumenta em número a cada dia, o aquecimento global que ameaça inundar grandes regiões, muitas delas habitadas, e alterar drasticamente a superfície do planeta.

Existem ainda vários outros riscos que muitos não se dão conta, tal como o grande vulcão ainda ativo na região do parque norte-americano de Yellowstone, cuja erupção poderá mudar a vida como nós a conhecemos em decorrência do grande material que seria expelido na atmosfera.

Todavia, conflito é algo que faz parte na vida de espíritos que habitam um mundo de expiação e provas, pois até há algum tempo atrás vivíamos sob a guerra fria, com ogivas nucleares prontas para serem detonadas, uma ameaça para o mundo como um todo. Isto não significa que esta situação não exista mais por completo, pois grande quantidade deste tipo de armamento ainda permanece pronto para detonação.

Além dos conflitos de ordem global, podemos considerar aqueles da vida cotidiana da pessoa comum, que surgem a todo momento. Precisamos e devemos nos perguntar quantos destes conflitos existem por opção pessoal, decorrente de escolhas e comportamentos inadequados.

Muitos acreditam que os males que se veem a braços são decorrentes de vivências anteriores a atual, no conceito oriental, que é o mais conhecido, de “karma”; no meio espírita têm-se o conceito das encarnações sucessivas.

Todavia, a situação pode ser muito diferente e as escolhas da vida atual pode ter um peso igual ou, até mesmo, maior que as de vidas outras. N’O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo V – Bem Aventurados os Aflitos, no item 4, encontramos informação importante sobre esta questão:


4. De duas espécies são as vicissitudes da vida, ou, se o preferirem, promanam de duas fontes bem diferentes, que importa distinguir. Umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida.

Remontando-se à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são consequência natural do caráter e do proceder dos que os suportam....

Os males dessa natureza fornecem, indubitavelmente, um notável contingente ao cômputo das vicissitudes da vida. O homem as evitará quando trabalhar por se melhorar moralmente, tanto quanto intelectualmente.



Diante do exposto, percebe-se a necessidade de conscientização da população para comportamentos mais adequados para a vida na coletividade, respeitando o próprio interesse naquilo que é realmente importante, assim como os interesses alheios. Esta educação, todavia, não é apenas conhecimento intelectual, mas se sentir parte integrante de uma sociedade em regime de interdependência, isto é, “eu” necessito da “sociedade”, assim como a “sociedade” necessita de “mim”.

O aumento da população mundial e os conflitos adicionais decorrentes é e será um ponto que os espíritos que aqui habitam devem tratar com seriedade.

Um mundo de expiação e provas é um local destinado a espíritos renitentes em comportamentos inadequados. A providência Divina agrupa os espíritos pela afinidade de forma que possam experienciar seu próprio comportamento visando, obviamente, o aprendizado dos efeitos danosos ou salutares, dependendo da natureza, de suas ações.



A educação moral garantirá que o indivíduo respeitará seus próprios limites e não interferirá na segurança e liberdade do próximo, conduzindo uma vida em sociedade justa e fraterna.

Os valores morais podem ser expressos de variadas formas, podendo ser transmitidos pelas religiões e, também, pelo próprio poder público sem que este, necessariamente, esteja alinhado com alguma vertente religiosa, focando no ensino das questões relativas a civilidade, isto é, formando cidadãos. Todavia, o que ainda se observa é que tanto poder público quanto religiões falham neste quesito por manterem seus interesses particulares, a busca do poder, acima dos interesses da população.

Muito se fala, no meio espírita, sobre a urgência na encarnação dos espíritos errantes. Todavia, encontramos a informação na Codificação que o espírito evolui tanto na condição de encarnado quanto na de desencarnado, assim, pode-se inferir que a importância da reencarnação para a evolução espiritual e antes uma questão relativa do que absoluta, atrelado única e exclusivamente a quanto nos esforçamos pelo aprendizado.

Os conflitos, inclusive a dor, serão o aguilhão que nos impulsiona para frente enquanto a inércia persistir, enquanto nos mantivermos alheios a condição de espírito imortal. O "empurrão" para continuar com sua caminhada é dado pelas demandas e dificuldades decorrentes da posse de um corpo carnal.

Assim sendo, quando o espírito estiver devidamente educado sobre a sua realidade e o significado de ser co-criador com Deus, trabalhará pelo seu próprio benefício tanto quanto pelo dos outros, vivenciando a unidade da Criação em todos seus aspectos. A vida como encarnado será apenas mais uma etapa do processo e não mais a principal.

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TUDO ESTÁ EM TUDO


27/11/2014

Na questão 33 d'O Livro dos Espíritos encontramos a resposta de que "tudo está em tudo" para a pergunta formulada por Kardec com relação a mesma matéria elementar ser suscetível de experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades.

De certa forma, o pensamento a que estamos acostumados de que as coisas possuem uma existência particular e que diferem entre si, faz com que a resposta dada pelos espíritos nos pareça estranha. Todavia, uma análise, mesmo que superficial, porém um pouco mais profunda do que o comum, pode nos levar a entender uma pouco melhor este ponto acerca da matéria com que lidamos no nosso dia-a-dia.

Imaginemos um namorado, noivo ou esposo que deseja presentear sua namorada, noiva ou esposa com algo especial, que cause uma forte impressão. Após muito pensar, ele decide presentear sua amada com uma linda pedra de carvão mineral. Creio que concordamos que não causaria grande impressão, para não dizer nenhuma.

Suponhamos, agora, que ele se decida por uma linda pedra de diamante. Neste caso podemos facilmente conceber que causaria uma comoção na sua amada devido a demonstração de amor.

Contudo, se analisarmos a composição química tanto do carvão quanto do diamante chegaremos a conclusão de que ambos são formados pelo mesmo elemento químico: o Carbono. Este mesmo elemento é responsável pela existência de todos os corpos orgânicos, seja vegetal ou animal.

A diferença básica entre o carvão e o diamante está na estrutura do cristal, isto é, na forma como os átomos estão organizados. No carvão a estrutura é laminar, enquanto no diamante é tetraédrica.

Outro exemplo interessante é a comparação da água comum com a água oxigenada. Ambas são constituídas por átomos de Hidrogênio e Oxigênio, porém a água oxigenada é composta por um átomo de Oxigênio a mais (água comum: H2O; água oxigenada: H2O2). Esta pequena diferença propicia propriedades completamente diferentes entre estes dois compostos, sendo que a mais marcante é o fato de que a água comum é essencial para a vida, enquanto que a água oxigenada pode causar a morte se ingerida na forma concentrada (água oxigenada vendida nas farmácias não é concentrada, mas diluída, por isso são utilizadas em machucados e, até mesmo, na boca).

Como é possível verificar, compostos comuns com diferentes propriedades podem ser constituídos de um mesmo elemento ou conjunto de elementos químicos, variando a proporção de cada um ou a forma como são organizados, exatamente como apresentado na resposta à questão 33a.

Elementos químicos são os diferentes tipos de átomos. Dentre os elementos que ocorrem naturalmente no planeta e os que são sintetizados pelo homem, contam mais de 100. Estes elementos, quando agrupados segundo certas leis, constituem os diversos materiais que se observa no planeta. Estes agrupamentos formam as moléculas.

Analisando a constituição do átomo, verificamos que é constituído de três partículas: prótons, nêutrons e elétrons. O átomo de Hidrogênio é o único constituído por apenas um próton e um elétron, não possuindo nenhum nêutron, enquanto que, no outro extremo dos elementos naturais encontra-se o Urânio, formado por 92 prótons, 146 nêutrons e 92 elétrons. Os diferentes elementos químicos são decorrentes da combinação em diferentes proporções destas partículas.

Sob este prisma, verificamos que tudo aquilo que percebemos como corpos materiais são formados, em sua estrutura mais básica, por três partículas apenas.

Seguindo a história do conhecimento, acreditava-se que os átomos eram a base da matéria, como os tijolos formam a estrutura da parede. A palavra "átomo", de origem grega, significa não divisível.

Todavia, atualmente este conceito já está mudado, já se sabe que os átomos não são a base da matéria, mas as partículas denominadas de "elementares". As partículas consideradas como verdadeiramente elementares somam um total de 48 e elas compõem tudo o que observamos e aquilo que não faz parte de nossa vida cotidiana, mas apenas para os cientistas em seus estudos visando desvelar o âmago da matéria. Isto sem considerar as denominadas "partículas virtuais" que são responsáveis pela interação entre as partículas.

Certamente ainda há um longo caminho a percorrer na busca da essência da matéria, inclusive que as partículas consideradas como verdadeiramente elementares hoje podem, como ocorreu no passado sobre conceitos semelhantes, ser reavaliados e consideradas como compostas, conduzindo a um novo grupo de partículas.

Todavia, muito já foi feito e, ao que a informação disponível indica, que o que chamamos de elementar ainda está longe de o ser, como apresentado na questão 34a d'O Livro dos Espíritos a uma pergunta de Kardec quanto a forma das moléculas, para a qual a resposta é: "Constante a das moléculas elementares primitivas; variável a das moléculas secundárias, que mais não são do que aglomerações das primeiras. Porque, o que chamais molécula longe ainda está da molécula elementar."


Artigo originalmente publicado no Jornal Carreio Espírita em julho de 2014

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A EDUCAÇÃO


10/11/2014

a) Livro: Inteligência Espiritual (Danah Zohar)

No início do século XX surgia o conceito de Inteligência Racional ou Intelectual, mais conhecido como QI. Este quociente é determinado através de testes específicos relacionados com a capacidade do indivíduo em soluciona problemas lógicos e racionais. Acreditava-se que as pessoas com QI elevado teriam “sucesso” na vida, todavia, foi verificado que não era uma garantia.

Nos anos 90 surgiu o conceito de Inteligência Emocional que está relacionado com o entendimento de si próprio e sentimento de outras pessoas, conferindo um senso da situação e como responder a ela.

Mais recentemente surgiu o conceito de Inteligência Espiritual que aborda questões de valores e significados. Direciona os atos para uma vida num sentido mais amplo e rico. Facilita a compreensão da imortalidade da alma, da fé religiosa, do bem, do amor...


b) Livro: O Mapa da Alma (Murray Stein)

Neste livro, o autor apresenta um excelente resumo de toda a teoria elaborada pelo psiquiatra suíço Carl G. Jung. Mais especificamente sobre o ego, considerado como uma função psíquica responsável pelo processamento de informação e tomada de decisão, diz ele:

"O ego focaliza a consciência humana e confere à nossa conduta consciente sua determinação e direção. Porque temos um ego, possuímos a liberdade para fazer escolhas que podem desafiar os nossos instintos de autopreservação, propagação e criatividade. O ego contém a nossa capacidade para dominar e manipular vastas somas de material dentro da consciência. É um poderoso ímã associativo e um agente organizacional. Uma vez que os humanos possuem tal força no centro da consciência, eles estão aptos a integrar e dirigir grandes quantidades de dados. Um ego forte é aquele que pode obter e movimentar de forma deliberada grandes somas de conteúdo consciente. Um ego fraco não pode fazer grande coisa desse gênero de trabalho e sucumbe mais facilmente a impulsos e reações emocionais. Um ego fraco é facilmente distraído e, por consequência, carece de foco e motivação consciente."

O ego se desenvolve e adquire vigor através de "colisões" com a realidade. É importante enfatizar que por “ego forte” não se deve entender como pessoas difíceis, como coloquialmente é interpretado.


c) Livro Depois da Morte (Léon Denis)

Na Quinta Parte, intitulada O CAMINHO RETO, Léon Denis agrupa uma série de qualidades ou características que precisam ser endereçadas para que possamos conduzir a nossa existência corporal e, consequentemente, a espiritual de forma saudável e em acordo com a expectativa de Deus para com seus filhos, que são: o dever, a fé, a esperança, o orgulho, a riqueza, a pobreza, o egoísmo, a caridade, a paciência, a bondade, o amor, a prece, a resignação na adversidade, o trabalho, a sobriedade, o estudo, a educação, as questões sociais e a lei moral. Assim, fica caracterizada a importância que devemos dedicar a nossa educação e daqueles que estão sob nossos cuidados, mesmo que seja em breves momentos, tal como nas escolas ou casas espíritas.

Léon Denis já alertava no final do século XIX o que a ciência, na pessoa de Jung, viria a dizer durante a primeira metade do século XX. Diz ele:

"Não devemos dar-lhes muitas alegrias, para que, habituados desde cedo à desilusão, essas almas jovens compreendam que a vida terrestre é árdua, que não se deve contar senão consigo mesmo, com seu trabalho, única coisa que proporciona a independência e a dignidade. Não tentemos desviar deles a ação das leis eternas. Há pedras no caminho de cada um de nós; só a sabedoria nos ensina a evitá-las."

Por “não devemos dar-lhes muitas alegrias” podemos compreender as “colisões” citadas por Murray Stain, isto é, as contrariedades naturais que nos deparamos no dia-a-dia e se fazem de extrema importância para o desenvolvimento do caráter e da capacidade de enfrentamentos das dificuldades, desenvolvendo, assim, a inteligência emocional.

Léon Denis analisa questões de extrema importância para o desenvolvimento do ser humano e da sociedade sob uma perspectiva mais ampla, a perspectiva espiritual que será válido para o ser imortal e não apenas para a forma transitória, indicando o caminho para o desenvolvimento da inteligência espiritual.

O livro foi publicado em 1889 e, ao ler o capítulo A EDUCAÇÃO temos a impressão que foi escrito ontem, de tão atual. Tal como:

"Não confiem seus filhos a outros, a não ser que sejam a isso obrigados. A educação não deve ser mercenária. Que importa a uma babá que uma criança fale ou ande antes de outra? Ela não tem nem o orgulho, nem o amor maternos."

Isto significa que os problemas não estão sendo tratados adequadamente. Podemos concluir que os espíritos que vêm renascendo trazem a mesma problemática e, com isso, passam as mesmas dificuldades para as gerações subsequentes.

A Doutrina Espírita nos alerta para certas questões que são negligenciadas. Cabe a nós a atenção devida para as providencias necessárias.

Devemos nos fazer as seguintes perguntas com relação aos nossos filhos:

Quem são? O que esperar? Como cuidar?


--- Quem são?

Espíritos - normalmente os vemos como "nossos", mas isto é apenas uma ilusão.
A questão 379 diz algo muito interessante:

379. É tão desenvolvido, quanto o de um adulto, o Espírito que anima o corpo de uma criança?
“Pode até ser mais, se mais progrediu. Apenas a imperfeição dos órgãos infantis o impede de se manifestar. Obra de conformidade com o instrumento de que dispõe.”


--- O que esperar?

A questão 380 esclarece:

380. Abstraindo do obstáculo que a imperfeição dos órgãos opõe à sua livre manifestação, o Espírito, numa criancinha, pensa como criança ou como adulto?
“Desde que se trate de uma criança, é claro que, não estando ainda nela desenvolvidos, não podem os órgãos da inteligência dar toda a intuição própria de um adulto ao Espírito que a anima. Este, pois, tem, efetivamente, limitada a inteligência, enquanto a idade lhe não amadurece a razão. A perturbação que o ato da encarnação produz no Espírito não cessa de súbito, por ocasião do nascimento. Só gradualmente se dissipa, com o desenvolvimento dos órgãos.”

O corpo limita a inteligência. A infantilidade é decorrente da perturbação para a encarnação, que não cessa de súbito. Este período não causa sofrimento, é antes um repouso das responsabilidades e na adolescência o espírito retorna à sua natureza.


--- Como cuidar?

Leon Denis diz: "Não basta ensinar à criança os elementos da Ciência. Tão essencial quanto saber ler, escrever, calcular, é ensinar a governar-se, a conduzir-se como ser racional e consciente; é entrar na vida, armado não apenas para a luta material, mas sobretudo para a luta moral."

Léon Denis termina o texto com o seguinte: "Todas as chagas morais decorrem da má educação. Reformá-la, colocá-la sobre novas bases teria para a Humanidade consequências incalculáveis. Instruamos a juventude, esclareçamos sua inteligência; mas, antes de tudo, falemos ao seu coração, ensinemo-lhe a despojar-se de suas imperfeições. Lembremo-nos de que a Ciência por excelência consiste em melhorar."

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PROPRIEDADES DA MATÉRIA


31/10/2014

Já tratamos aqui, no artigo publicado em março de 2014, intitulado “Matéria”, sobre como os conceitos sobre a matéria foram se modificando ao longo do desenvolvimento do conhecimento humano. Gostaríamos de salientar três pontos em especial: 1) que massa não é uma propriedade intrínseca; 2) matéria nada mais é do que o fluido cósmico se expressando de uma forma específica e; 3) o pensamento age no fluido cósmico formando os corpos materiais.

Dito isto, podemos nos deter em expor algumas ideias e conceitos acerca das propriedades da matéria.

Analisando a resposta da questão 29 de O Livro dos Espíritos onde diz que a ponderabilidade é um atributo da matéria como conhecemos, mas não da matéria etérea, que seria imponderável, podemos chegar à conclusões interessantes.

Por “ponderável”, segundo o Dicionário Michaelis on line, entende-se como aquilo “que se pode pesar, avaliar ou examinar”. Como “ponderabilidade” é a qualidade de ser ponderável, podemos, então, considerar que “imponderabilidade” é a propriedade de não ser possível pesar, avaliar ou examinar.

A partir da premissa de que matéria é uma forma de expressão do fluido cósmico para conosco, podemos, por dedução, considerar que a ponderabilidade também seria uma expressão deste mesmo fluido; considerando que por “ponderabilidade” devemos entender como a possibilidade de nossa interação direta com os corpos e substâncias materiais em geral.

Apesar de normalmente considerarmos o que é percebido pelos sentidos físicos como sendo a realidade independente de nós, este conceito já não é mais aceito pela visão científica. Esta nova abordagem está em acordo com o apresentado na Codificação Espírita, pois, como consta na questão 32 de O Livro dos Espíritos, as diferentes propriedades da matéria somente podem ser avaliadas segundo a disponibilidade dos órgãos do corpo físico para percebê-las.

Assim, tudo aquilo que percebemos pelos sentidos físicos são o modo como estes respondem aos estímulos fornecidos pela manifestação do fluido cósmico, em outras palavras, a forma como este fluido se manifesta, como os órgãos o percebe e como o cérebro interpreta.

A visão de realidade, portanto, toma características completamente diferentes, alterando o paradigma da nossa própria existência, experiência e relação com o mundo exterior.

Na concepção científica atual, nenhum fenômeno pode ser compreendido na sua essência original, pois toda e qualquer observação interfere com o fenômeno em si. Portanto, tudo aquilo que conhecemos já é resultado da interferência causada pelo simples ato de observar.

Se considerarmos que em toda observação haverá forçosamente a ação do pensamento direcionado, a interferência é decorrente da ação do pensamento sobre o fluido. Desta forma, aquilo que consideramos como realidade é fruto da interferência do espírito no fluido existente.

Na época da codificação da Doutrina Espírita, o conceito reinante era o de uma descrição objetiva da natureza, descrição esta segundo os conceitos pertinentes à Física Clássica, também conhecida como Física Newtoniana. Esta objetividade de análise considerava que o universo existia independente do ser vivo, sobre o qual atuava apenas por meios materiais, ou causais.

Contudo, com o advento da Física Quântica e da Teoria da Relatividade, já no século XX, fica patente que a separação entre matéria e ser vivo já não pode mais ser aceita no estudo dos fenômenos observáveis. Apesar de não ser amplamente conhecido, esta nova abordagem mudou completamente a visão de mundo e a forma como a ciência trata as pesquisas em determinadas áreas do conhecimento humano, especialmente no que está relacionado com a matéria.

Conceitos como a dualidade partícula-onda da luz que, em linhas gerais, significa que pode se comportar como uma partícula (um corpo sólido), ou como onda (energia se propagando no espaço), compreendendo dois fenômenos e comportamentos distintos.

Analisando sob este prisma, somos conduzidos a perguntar: O que é a luz: partícula ou onda? Para esta pergunta não existe uma resposta específica, o mais sensato é dizer que depende da situação. A propriedade da luz varia segundo o fenômeno.

Se tomarmos a matéria como corpos bem definidos, a colocação anterior causa grande desconforto, mas ao considerarmos fluido se manifestando desta ou daquela forma, esta mesma colocação não causa espanto algum, pois a melhor resposta para a pergunta “O que é a luz?” seria a que encontramos genericamente na Codificação Espírita: A luz como tudo e qualquer outra coisa é fluido se manifestando de uma forma ou de outra.

Em suma, não existiriam propriedades bem definidas para a matéria, pois esta, sendo formada por fluido, sofre a ação dos espíritos que aqui habitam, mesmo que inconscientemente. Todavia, a partir do momento em que temos o conhecimento desta ação, podemos utilizar em benefício próprio e de outros, pois pensamentos salutares conferirão características também salutares para o fluido, como por exemplo os que compõem o alimento, água ou, até mesmo, o ar que nos envolve.


Artigo originalmente publicado no Jornal Carreio Espírita em junho de 2014

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FLUIDO UNIVERSAL


23/09/2014

A compreensão de questões sutis e abstratas ainda é uma barreira a ser ultrapassada por espíritos na condição compatível com um mundo de expiação e provas. Esta característica é uma demonstração do princípio apresentado na pergunta 780 de O Livro dos Espíritos, que diz que o progresso moral decorre do progresso intelectual, isto é, o desenvolvimento da capacidade de entendimento de assuntos de cunho mais concreto conduzirá ao entendimento daqueles de cunho mais abstrato, como a moral ou a essência mesma da matéria.

Podemos dizer que isto ocorra por dois motivos principais: 1) Como o nível evolutivo da humanidade terrestre é baixo e, por isso, está ligada à matéria muito densa, esta é que mais afetaria os sentidos, portanto, estes seriam os estímulos mais marcantes e; 2) A mente pouco desenvolvida se mantém presa em questões do dia a dia.

Apesar de parecerem pólos contrários, a matéria está relacionada com o estágio moral do espírito. Em decorrência da sua natureza sutil e plástica, a essência de que a própria matéria é constituída, sofre a ação do pensamento que, por sua vez, pode lhe proporcionar características salutares ou nocivas. Estas características repercutirão no próprio espírito que, como mencionado anteriormente, será sensibilizado por ela.

Diante do exposto, percebe-se a necessidade de se aprimorar o conceito do componente cuja finalidade mais básica que podemos conceber é seu uso como essência material e espiritual: o fluido universal. Para isto, deve-se partir da informação disponibilizada, n'O Livro dos Espíritos, pelos espíritos responsáveis pela Codificação Kardequiana.

Na questão 27 do supra citado livro, encontra-se os primeiros esclarecimentos sobre a natureza e propriedades do fluido universal. Kardec pergunta se haveria dois elementos distintos, a matéria e o espírito. A resposta não é simples e, em decorrência da complexidade do assunto aliada as dificuldades encontrados pelos espíritos aqui viventes, precisa ser analisada com cuidado, pois é apresentada em duas etapas, ou melhor, dois níveis.

No primeiro nível da explicação, a resposta mantém o foco mais próximo da nossa materialidade, isto é, trata a matéria como a conhecemos e nos estados variados do fluido mais próximos da materialidade da Terra, fazendo, assim, a distinção do espírito. Declaram, assim, a existência de dois elementos gerais: espírito e matéria.

Todavia, o que chama atenção é a afirmativa seguinte. Ao dizer “Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal...” fica claro que, até então, o fluido universal não estava incluído na resposta. Com o complemento da frase, o conceito fica um pouco mais claro, pois ao dizer que o fluido universal "desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita” fazem, assim, uma diferenciação entre fluido universal, matéria e espírito, apesar de pontos em comum.

Podemos, então, conceber que são considerados dois elementos gerais em níveis mais próximos da condição de existência encontrada no planeta, aquela vivenciada no nosso dia a dia. Todavia, é necessário vislumbrar que existem outras condições e, consequentemente, outras abordagens, o que fica mais claro na continuação.

No segundo nível da resposta o conceito se torna completo, apresentando o fluido universal como componente geral também do espírito, e não apenas da matéria. Na colocação: “se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o Espírito não o fosse”, verifica-se que nos é apresentado um grande dilema e que, dependendo do modo como é analisado, pode-se chegar a um entendimento ou a outro.


Há duas formas de interpretar esta parte da resposta: 1) Se considerarmos o fluido universal como matéria, então, o espírito também seria matéria e; 2) Se considerarmos o fluido universal como não sendo matéria, então, o espírito seria imaterial.

Porém, na resposta apresentada na questão 82, temos, com relação ao espírito, que “imaterial não é bem o termo; incorpóreo seria mais exato...”. Portanto, não podemos dizer que o espírito seja imaterial.

Para o dilema descrito, podemos encontrar uma saída: não considerar o fluido universal como sendo matéria e reconhecermos que ainda não estamos aptos para questões desta envergadura, assim, qualquer tentativa de defini-lo seria um erro. Portanto, uma consideração equivocada sobre a natureza do fluido universal gera discordância e, com isso, promove uma dificuldade de entendimento sobre a sua natureza.

Podemos, então, concluir que não existe ainda, para nós, uma definição quanto ao que seja ou represente o fluido universal, podemos apenas considerá-lo como a fonte dos componentes necessários para a criação e formação daquilo sabemos existir: espírito e matéria.



Artigo originalmente publicado no Jornal Carreio Espírita em maio de 2014

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A INFLUÊNCIA DO ESPIRITISMO NO PROGRESSO


08/09/2014

Este tema, muito interessante e de extrema importância para o movimento espírita, requer enorme cuidado na interpretação para não incorrer em equívocos que podem demandar longo tempo para a reparação. A interpretação indicará o direcionamento neste campo de grande severidade, pois é relativo a aceitação e entendimento do Espiritismo.

Desta forma, é imperioso ressaltar que algumas assertivas, tais como: "Nós estamos na faculdade do espírito" e "O Espiritismo não é a religião do futuro, mas o futuro das religiões.", tão comum em palestras, além de não contribuem em nada para a aceitação de conceitos espíritas, prejudicam em muito, pois preconceito normalmente, gera preconceito.

Na questão 800 de O Livro dos Espíritos encontramos o seguinte: "As ideias só pouco a pouco se modificam, conforme os indivíduos, e preciso é que algumas gerações passem, para que se apaguem totalmente os vestígios dos velhos hábitos."; e a questão 799 apresenta algumas considerações que trazem alguns exemplos da necessidade de uma correta interpretação.


799. De que maneira pode o Espiritismo contribuir para o progresso?

“Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz que os homens compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses. Deixando a vida futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá melhor que, por meio do presente, lhe é dado preparar o seu futuro.
Abolindo os prejuízos de seitas, castas e cores, ensina aos homens a grande solidariedade que os há de unir como irmãos.”


Gostaríamos, portanto, de ressaltar e analisar três pontos da questão 799:


a) “Destruindo o materialismo”

O uso da palavra "materialismo", neste sentido, requer uma interpretação mais detalhada, pois, a princípio, todo aquele ligado a alguma religião não deveria ser considerado como sendo materialista.

Porém, "materialismo", segundo o dicionário Michaelis, significa: "Tendência para tudo que é material, vulgar, grosseiro". Assim, vemos que inclusive as pessoas ditas "religiosas" podem apresentar um comportamento materialista. Portanto, é necessário combater o materialismo como conceito.


b) "por meio do presente, lhe é dado preparar o seu futuro."

Estamos diante de um dilema que precisa ser analisado com clareza e bom senso, no sentido de promover a conscientização de que o trabalho para o futuro como espírito imortal tem início hoje, todavia, como bem apresentado acima, na questão 800, as ideias novas não são assimiladas imediatamente, demandando muito tempo.

Assim, ao mesmo tempo que a divulgação doutrinária implica em expor a necessidade do início imediato, requer que não seja causa de ansiedade e busca do imediatismo nos resultados, o que pode levar ao abandono destes conceitos.

A vida do espírito, sendo imortal, não tem fim e o trabalho de aprimoramento é para a eternidade. Portanto, os resultados somente são colhidos gradativamente e não pode se tornar motivo para a revolta contra a divindade.


c) “Abolindo os prejuízos de seitas, castas e cores, ensina aos homens a grande solidariedade que os há de unir como irmãos.”

Seitas, castas, cores e, também, vertente religiosa são diferenças que conduzem ao preconceito que surgirá sempre que grupos de pessoas que compartilham certa característica se considerem melhores ou superiores aos outros, fazendo realçar as características diferentes, enaltecendo aquelas que possuem e rebaixando outras.

A melhor forma de abolir as divisões será sempre trabalhar e apresentar pontos em comum. Isto pode ser percebido pela tendência de grupos ligados a religiões de terreiro, tal como Umbanda, utilizarem a Codificação Espírita para estudo. Devemos nos perguntar qual ou quais pontos em comum compartilham estas religiões com o Espiritismo. Para este questionamento podemos encontrar a resposta na mediunidade, fenômeno presente em todos os nichos da humanidade, mas que são abertamente aceitas pelas religiões em questão.

Para unir todas em um sentimento comum de fraternidade universal há a necessidade de aceitação de algo maior e nada estaria acima de Deus. Infelizmente, ainda não predomina o conceito de Deus único na humanidade, onde cada vertente religiosa se considera ser detentora da verdade absoluta sobre a divindade, existindo grande multiplicidade de “verdades absolutas”. As diferentes interpretações podem, inclusive, coexistir, contanto que todas partam do princípio de que o amor de Deus é igual para todas as criaturas e que a “salvação” está disponível para todos. Este ponto é uma grande dificuldade e, certamente, o maior desafio.

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RELAÇÕES INTERPESSOAIS


24/08/2014

Relações entre seres humanos não é e nunca foi algo fácil de ser conduzido com qualidade devido à variedade de interesses e padrões de pensamento e de comportamento. Podemos imaginar que seja muito diferente em se tratando dos animais, cujos interesses se mantém muito similar entre os membros de uma mesma espécie.

Os humanos apresentam dois agravantes quando comparados com os animais: o orgulho e o egoísmo. O orgulho faz com que cada um busque ser melhor e maior e todas as vezes que não são reconhecidos como tal surge conflito, podendo se manter interno ou não; o egoísmo, por sua vez, faz que se busque mais e o melhor para si, em detrimentos dos outros. Ambos causam graves danos a sociedade.

Tentar abranger todas as dificuldades que podem ser encontradas no relacionamento humano seria inviável, porém, podemos começar estudando um caso em particular, um determinado grupo com características ou interesses semelhantes. Neste caso, o melhor grupo a se considerar seria os presentes em uma casa espírita, onde, a princípio, todos deveriam ter como meta a evolução pessoal e de todos, fomentando o amor ao próximo.

Uma casa espírita é a reunião de espíritos encarnados e desencarnados. Portanto, devemos buscar a orientação necessário em O Livro dos Médiuns para maiores esclarecimentos sobre a interferência de um sobre o outro e vice-e-versa. Assim, no Cap. XXI - Da Influência do Meio, podemos ter uma boa ideia do que encontrar em uma casa espírita.

Primeiramente, é preciso considerar que todos nós, médiuns ostensivos ou não, atraímos espíritos desencarnados. Este conceito traz uma ponderação muito interessantes, pois se nos encontramos em um mundo onde habitam espíritos de nível evolutivo compatível com expiações e provas, são eles que estarão próximo, portanto, temos uma boa noção do tipo de espírito predominante.

Kardec vai mais longe em sua abordagem e diz: "Se tomarmos cada povo em particular, poderemos, pelo caráter dominante dos habitantes, pelas suas preocupações, seus sentimentos mais ou menos morais e humanitários, dizer de que ordem são os Espíritos que de preferência se reúnem no seio dele."; "Assim, onde quer que haja uma reunião de homens, há igualmente em torno deles uma assembleia oculta, que simpatiza com suas qualidades ou com seus defeitos..." e; "Nem sempre basta que uma assembleia seja séria, para receber comunicações de ordem elevada. Há pessoas que nunca riem e cujo coração, nem por isso, é puro. Ora, o coração, sobretudo, é que atrai os bons Espíritos."

Podemos, então, afirmar que uma casa espírita será tão boa quanto seus integrantes o forem, pois os bons espíritos são atraídos pelos bons ideais. Todavia, em contrapartida, uma casa espírita é um local para espíritos enfermos os quais os mentores se propõem em auxiliar. Portanto, não adiantar adianta reclamar do companheiro de trabalho ou dos frequentadores, é preciso agir com caridade.

Extrapolando os nossos deveres para com o próximo, é preciso considerar que as relações interpessoais, sejam dentro de uma casa espírita ou não, deverão ser baseadas na caridade. Como não há regra de conduta melhor que o Evangelho como devidamente apresentado n'O Evangelho Segundo o Espiritismo, este deve ser a referência em como agir e reagir em todas as situações na vida de relação com o outro.

As relações interpessoais e destes com regras de conduta adequadas datam de longo tempo, por isso, para compreender o momento atual das casas espíritas e da vida em sociedade é necessário considerar a caminhada do Evangelho no mundo. Por “Evangelho” entende-se o ensinamento por si mesmo, pois no livro O Evangelho Segundo o Espíritos, logo na introdução, Kardec apresenta a doutrina de Sócrates e Platão como precursoras dos ensinamentos de Jesus e do próprio Espiritismo.

Sob este aspecto, podemos considerar a parada do Evangelho na Grécia antiga, 500 AC, com Sócrates e Platão. Sócrates é mencionado inicialmente n’O Livro dos Espíritos, questão 919:


Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?

“Um sábio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”


O reconhecimento de Sócrates como um homem sábio foi muito interessante.

No noroeste de Atenas, na cidade de Delfos, se localizava o Templo de Apolo, deus grego da antiguidade. Neste templo existia um oráculo, o Oráculo de Delfos, onde ficava a pitonisa que respondia as mais variadas questões e era considerada de extrema importância para a sociedade.

Certo dia, a pitonisa relatou a Querofonte que determinado amigo seu era o mais sábio dos homens. Ela se referia a Sócrates, que viria a se tornar um marco, dividindo a filosofia entre pré- e pós-socrática.

Ao ser informado sobre as palavras da pitonisa, Sócrates se mostrou muito surpreso, afinal não tinha nenhuma especialização e se considerava um ignorante. Assim, tentou interpretar o que o oráculo havia dito e optou por interrogar os homens considerados sábios acerca das mais variadas questões para encontrar o mais sábio e seguir com a sua vida.

Após algum tempo Sócrates chegou à seguinte conclusão: “sei que não sei, enquanto os meus concidadãos pensam que sabem o que não sabem”. No frontispício do oráculo de Delfos se encontrava seguintes as palavras: CONHECE-TE A TI MESMO, que se tornou o lema da filosofia socrática.

Como a segunda parada do Evangelho, nesta abordagem simplista, podemos considerar a Palestina na época de Jesus e nada mais apropriado que analisar a postura do próprio Jesus.

Algumas afirmações repetidas ao longo do tempo nos remete a situações específicas sem que avaliemos precisamente o seu significado. Tomemos como exemplo o segmento de texto extraído da Parábola do Semeador:


“Naquele mesmo dia, tendo saído de casa, Jesus sentou-se à borda do mar; – em torno dele logo reuniu-se grande multidão de gente; pelo que entrou numa barca, onde sentou-se, permanecendo na margem todo o povo. – Disse então muitas coisas por parábolas...”


O que significava "multidão de gente" na época de Jesus? A mesma quantidade de pessoas que estão presentes em um evento do Rock in Rio, por exemplo; o número de participantes em uma palestra do divulgador espírita Divaldo Franco; ou muito menos?

Considerando que a população estimada na Palestina era de 500 mil habitantes e que Jesus não tinha microfone, podemos imaginar que se tratava de um número muito reduzido de pessoas quando comparado com eventos atuais de grande porte. Um espírito da envergadura de Jesus encarnou para trazer o ensinamento para poucos, desprovido de orgulho, não precisa de holofotes.

Em seguida, podemos considerar Roma como mais uma parada do Evangelho, onde se estabeleceram cristãos que viviam na clandestinidade. A Igreja se estabeleceu oficialmente com a permissão do Imperador Constantino no século IV.

A história relata que ocorreram uma série de equívocos com o passar do tempo. Inicialmente se formou o regimento denominado de Cavaleiros Templários que foram responsabilizados pelo confisco de muitos tesouros e perseguições em locais distantes.

Em seguida, podemos dizer que veio um dos mais graves equívocos cometidos: A Inquisição, movimento responsável pela perseguição, tortura e morte de um sem números de pessoas sob alegações de heresia pelos mais diversos motivos.

O Evangelho chega, então, na França, na segunda metade do século XIX.

Com o advento das ocorrências denominadas de "mesas girantes", o hoje conhecido como Allan Kardec, se interessou pelo fenômeno quando informado que as mesas podiam responder perguntas que lhe eram direcionadas. Assim, começa a surgir a Doutrina Espírita; baseada na comunicabilidade com os mortos, busca trazer à luz a questão de vida e de morte, descortinando um mundo, ou melhor, uma condição de existência pouco conhecida e estabelece uma correlação mais acertada sobre a forma como se vive enquanto encarnado e a condição que o espírito se encontrará durante e após a desencarnação.

Muitos adeptos surgiram e auxiliaram Kardec na sua empreitada, tanto na França quanto em outros países. Atualmente o movimento espírita na Europa segue acanhado.

Mais recentemente, o movimento espírita no Brasil tomou proporção considerável e vem aumentando. Contamos hoje em dia com grande quantidade de casas espíritas e a disseminação de informação é feita de variadas formas, tais como tv, rádio, jornais e internet.

Neste contexto, como devemos interpretar o tão propagado lema: "Brasil, coração do mundo e pátria do evangelho"?

Avaliando o percurso do Evangelho, mesmo com toda a simplicidade apresentada neste pequeno estudo, vemos que “sua” pátria vai se alternando com o tempo. Podemos, portanto, comparar a trajetória do Evangelho no planeta Terra como um trem seguindo seu caminho com as paradas eventuais nas estações, são as oportunidades que vão surgindo para os diferentes povos.

Porém, não se pode dizer quais locais a aproveitaram e quais não a consideraram como tal, pois, assim como ocorre em uma estação de trem onde muitos embarcam e outros tantos não, muitos não deixaram o Evangelho passar em vão, enquanto outros não se detiveram na questão. Muitos espíritos foram tocados e partiram para mundos melhores. Estes foram os escolhidos como descrito na parábola do Festim das Bodas, apesar de muitos terem sido chamados. Em outras palavras, o Evangelho estava no seio do povo, poucos prestaram realmente atenção no que era apresentado, enquanto outros ou não se interessaram ou se mantiveram apenas nas práticas exteriores.

Ainda sob o mesmo aspecto, podemos compreender a parábola dos Trabalhadores da Última Hora, durante o período de tempo que o Evangelho permanece em determinado local como sua pátria, todos são convidados ao trabalho e não importa se respondem logo de imediato ou se necessitam de mais tempo para compreender o que está em jogo. Na analogia com o trem, enquanto estiver parado qualquer um pode entrar.

Agora chegou a vez do Brasil, país com forte tendência para a religiosidade, onde a grande quantidade de casas espíritas são os locais para se exercitar o Evangelho, trabalhando gradativamente o orgulho e o egoísmo, as duas chagas da humanidade, como preparação vivenciar o amor ao próximo em todos os momentos e locais.

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ESPÍRITO


05/08/2014

O entendimento do que o espírito realmente é, ainda permanece uma questão que deverá ser solucionada no futuro, pois percebemos que nos falta conhecimento de base para tratar deste tema em maior profundidade. Contudo, mediante a análise da informação disponível em O Livro dos Espíritos, podemos chegar a algumas ilações sobre assunto tão fascinante e, ao mesmo tempo, intrigante.

Na questão 23 do supracitado livro, encontra-se o seguinte:


Pergunta: Que é o Espírito?
Resposta: “O princípio inteligente do Universo.”


Esta resposta é deveras interessante, pois, no meio espírita em geral, percebe-se a interpretação de haver uma nítida distinção entre "espírito" e "princípio inteligente", como se tratando de duas coisas ou estados diferentes. Porém, no livro basilar da Doutrina Espírita fica patente que um e outro são a mesma coisa em se tratando de conceito mais básico, em essência.

As diferenças existentes entre os espíritos não estão na sua essência ou estrutura mais básica, todavia, elas existem, pois, em decorrência do nível evolutivo dos espíritos, é possível observar que estes não são iguais na capacidade de ação e nas possibilidades dos fenômenos que são capazes de realizar. Esta igualdade na essência e desigualdade de capacidade levou Jesus a dizer, como apresentado n'O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX: "Pois em verdade vos digo, se tivésseis a fé do tamanho de um grão de mostarda, diríeis a esta montanha: Transporta-te daí para ali e ela se transportaria, e nada vos seriam impossível."

Dando continuidade ao estudo, encontra-se, na questão 23a d'O Livro dos Espíritos, o seguinte:


Pergunta: Qual a natureza íntima do Espírito?
Resposta: “Não é fácil analisar o Espírito com a vossa linguagem. Para vós, ele nada é, por não ser palpável. Para nós, entretanto, é alguma coisa. Ficai sabendo: coisa nenhuma é o nada e o nada não existe.”


Pelo seguimento da resposta que diz "coisa nenhuma é o nada e o nada não existe", pode-se concluir que o espírito há de ser alguma coisa, aquilo que Deus cria, possibilitando postular a existência de uma estrutura que seria o espírito propriamente dito. Esta estrutura, segundo a ques-tão 23a d’O Livro dos Espíritos, é alguma “coisa” e, segundo a questão 82, é formado de “matéria quintessenciada”.

Em suma, o espírito criado seria uma estrutura capaz de exercer funções, dentre estas funções estaria, como principal, a capacidade de desenvolver e organizar a mente a partir da observação e experimentação. Pode-se inferir que esta função seja o que é denominado de "inteligência", como definida na questão 24 d'O Livro dos Espíritos: "um atributo essencial do espírito".

Nesta visão, o espírito deixa de ser concebido como uma abstração para ser entendido como uma estrutura capaz de exercer funções. A totalidade destas funções é uma incógnita no estágio atual da humanidade terrena. Neste paradigma haveria condições de correlacionar o espíri-to, que é o ser, com uma estrutura existente, específica e, em certo sentido, física.

Esta visão em nada contraria a Codificação, muito pelo contrário, se bem analisada, é corroborada pela questão 88 d'O Livro dos Espíritos, que diz o seguinte:


Pergunta: Os Espíritos têm forma determinada, limitada e constante?
Resposta: “Para vós, não; para nós, sim. O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea.”


Percebe-se que nesta questão encontra-se a afirmação de que os espíritos possuem uma forma, certamente ainda incompreensível para a humanidade terrena, mas não para aqueles que vivenciam a finalidade da Criação, que já atingiram certo grau evolutivo, que se "despiram" das vestes materiais grosseiras. Aqueles, todavia, que se encontram muito aquém deste nível, necessitam de imagens para elaborar ideias abstratas, por isso a orientação de imaginar os espíritos como uma chama ou centelha, imagens diáfanas e sem forma definida.



Bibliografia:

Kardec, Allan; O Livro dos Espíritos; 77a. edição, FEB, 1997.
___; O Evangelho Segundo o Espiritismo; 112a. edição, FEB, 1996.



Artigo originalmente publicado no Jornal Carreio Espírita em abril de 2014

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PENA DE MORTE


15/07/2014

A questão da pena de morte, que ainda é aplicada em muitos países, suscita grande reflexão quando analisada sob um ponto de vista mais profundo e pessoal no que concerne os ensinamentos espiritas.

Aprofundando o estudo na abordagem da Doutrina Espírita sobre esta questão, verificamos que se encontra n'O Livro dos Espíritos, parte 3, cap. VI, intitulado Da Lei de Destruição. Portanto, a pena de morte está vinculada a "destruição" ou, em outras palavras, aos escândalos que os habitantes deste mundo ainda estão fadados a vivenciar.

Assim, a pena de morte está, segundo a Doutrina, par a par com as guerras, assassinatos, crueldade e duelo.

A ONG Anistia Internacional, um movimento mundial com mais de 3 milhões de apoiadores, membros e ativistas que se mobilizam para que os direitos humanos reconhecidos internacionalmente sejam respeitados e protegidos, relata os seguintes dados:



Esses números correspondem aos dados oficiais, havendo muitas outras ocorrências não declaradas, tal como na China onde milhares são sentenciados com a pena máxima.

Por definição temos: A pena de morte é uma sentença aplicada pelo poder judiciário que consiste em retirar legalmente a vida de uma pessoa que foi julgada culpada por ter cometido um crime considerado pelo Estado como suficientemente grave e justo de ser punido com a morte.

A primeira vista, para aqueles menos afeitos a se deter sobre questões espirituais, a ideia parece ser bastante razoável e tentadora, o que granjeia muitos adeptos, tanto que é aplicada em muitos países. Partindo deste entendimento do porquê muitos a consideram como válido, podemos nos contrapor a ela.

Da definição apresentada, gostaríamos de ressaltar dois pontos:


1- Julgado culpado

O ato de julgar é algo muito complicado, pois a avaliação está restrita aos acontecimentos e não as condições individuais e motivacionais que culmina em qualquer ato, seja lícito ou não.

Obviamente que, entre os encarnados, há a necessidade da existência da justiça sob alguma forma. A justiça, como ela é aplicada na atualidade, não é perfeita e, por isso, incorre em muitos equívocos; a não aplicação da pena capital viabiliza que falhas possam, se não completamente reparadas, tal como quando passa muito tempo, ao menos mitigadas.

O entendimento da justiça de Deus, naquilo que conseguimos conceber pelo que é apresentado pelo Espiritismo, nos leva a conclusão de que a gravidade das faltas cometidas é relativa a intenção do espírito que a cometeu, que se traduz pelo que é conhecido no meio espírita como "agravantes" e "atenuantes".


2- Crime considerado grave

Os tipos de crimes que são considerados graves vão-se alterando ao longo da história, portanto, alguém condenado a pena de morte hoje por um motivo específico poderia não o ser em outro tempo qualquer.

Por mais incrível que possa parecer, mas um "crime" cometido que levou aquele que cometeu a pena de morte e que, felizmente não foi aplicada e convertida em prisão domiciliar, é hoje considerado um grande feito. O "criminoso" era Galileu Galilei (século XVII), cujo "crime" foi a construção de um telescópio que provava que a Terra girava em torno do Sol e não o contrário. Esperamos que seja pouco provável que algo deste tipo ocorra daqui para frente.

O desenvolvimento científico era considerado crime quando não corroborava com as ideias da época.

E hoje em dia? O que deveria ser considerado grave a ponto de ser merecedor de pena de morte? Esta é a grande pergunta e, para isso, listamos algumas possibilidades para avaliação:


a) Crimes hediondos;
b) Crimes contra a humanidade;
c) Corrupção;
d) Empresários sem escrúpulos;
e) Enganar e levar uma pessoa ao suicídio;
f) Avançar o sinal vermelho colocando outros em risco;
g) Comercialização de bebidas e drogas, sejam denominadas de lícitas ou não.


No final, não devemos fazer nenhum tipo de mal a quem que seja como nos diz o seguinte ensinamento de Jesus:


Reconciliai-vos o mais depressa possível como vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho, para que ele não vos entregue ao juiz,o juiz não vos entregue ao ministro da justiça e não sejais metido em prisão. – Digo-vos, em ver-dade, que daí não saireis, enquanto não houverdes pago o último ceitil. (MATEUS, 5:25e 26.)

Assim, podemos conceber que haverá comprometimento para quem aplica a pena de morte e o réu responderá pela falta cometida adequadamente através da providência.


Estas considerações são importantes para estabelecermos conceitos acerca do nosso próprio comportamento em sociedade. Podemos ainda citar como exemplo a possibilidade de haver no futuro uma consulta popular, como já ocorreu no passado, e estaremos em condições de decidir e votar conscientemente.

Além disso, precisamos ter em mente que planeta Terra é um mundo de expiações e provas, segundo a Doutrina Espírita. Este tipo de mundos se caracterizam principalmente por serem habitados por espíritos que ainda praticam o mal conscientemente.

Disto decorre que os mais variados tipos de "escândalos" aqui ocorram e, pela coexistência de vários graus evolutivos, onde crenças das mais diversas partilham o espaço, somos forçados a correlacionar nossos atos com sofrimentos deles decorrentes.

Como ainda não estamos completamente libertos de padrão mental semelhante aos diversos tipos de escândalos e a convivência com os diversos fatos, especialmente aqueles que nos chocam, devem servir para que façamos uma auto avaliação sobre o nosso próprio comportamento, pois, o que realmente devemos analisar deve versar sobre "causar sofrimento à outrem". Por “outrem” precisamos considerar todos os seres que são passíveis de sofrimento, portanto, todos os seres vivos, sejam humanos, animais ou vegetais.

Quanto sofrimento os humanos infligem nos seus semelhantes em decorrência do orgulho e egoísmo? Quantos ultrajes são cometidos? Agressões sem fim, usurpação dos meios de sobrevivência de muitos, cometidos pelo indivíduo comum e governantes. A falta de piedade e caridade causam cicatrizes profundas que podem não ser completamente trabalhadas durante a encarnação, se estendendo para mais adiante.

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MATÉRIA


29/06/2014

O conceito de matéria foi sendo modificado e aprimorado ao longo do tempo. Podemos ressaltar a teoria elaborada por Demócrito, no século V a.C., como a grande mudança de paradigma com relação a este assunto; teoria esta, mais filosófica que decorrente de observações, que descrevia os corpos como sendo constituídos de blocos infinitamente pequenos e indivisíveis que foram denominados de "átomos".

Teorias mais decorrentes de experimentações foram desenvolvidas com o passar to tempo, surgindo o conceito de Thomson e, depois, de Bohr, que trataram destes "blocos de matéria" - os átomos.

A ideia reinante até o início do século XX, era o modelo atômico concebido por J.J. Thomson, físico inglês, no qual as cargas elétricas ficavam distribuídas aleatoriamente em uma massa consistente e uniforme.

Podemos visualizar esta concepção do átomo como algo parecido com um panetone, o tipo de pão que é normalmente comercializado na época natalina, no qual são acrescentadas frutas cristalizadas e passas a massa que, durante a mistura e cozimento, vão ocupando lugares aleatoriamente, sendo que, ao final, estarão mais ou menos uniformemente distribuídas. As frutas cristalizadas e passas representam os elétrons. Nesta condição, os corpos eram considerados sólidos compactos, totalmente preenchidos por matéria.

Com as conclusões de Rutherford, físico neozelandês, e complementadas por Niels Bohr, físico teórico dinamarquês, que deduziram uma teoria que harmonizava, em parte, todos os resultados obtidos com os vários experimentos que foram realizados, a concepção do átomo foi substituída. Surge, então, o modelo atômico de Bohr: um núcleo central contendo as cargas positivas com os elétrons girando em seu entorno.

A enorme diferença é que, com nova concepção do átomo, a matéria deixa de ser considerada compacta, para ser constituída, em sua maior parte, por espaços vazios.

Recentemente foi divulgado que pesquisadores do acelerador de partículas localizado entre a França e Suíça, o LHC (Large Hadron Collider) confirmaram, dentro de certo grau de certeza, partículas cujo comportamento foi descrito na década de 1960. Estas partículas são conhecidas como "Bóson de Higgs" em homenagem ao desenvolvedor da teoria, o cientista Peter Higgs.

A teoria diz que, após o surgimento do nosso universo conhecido, houve a formação de um campo, o campo de Higgs, e suas partículas portadoras, os bósons de Higgs. Este campo e, consequentemente, as partículas portadoras são responsáveis pela propriedade de partículas apresentarem massa.

Desta forma, percebe-se que a massa não é uma propriedade inerente da matéria, haja vista que existem partículas que não interagem com este campo e, portanto, não apresentam massa.

Se juntarmos a este, outro conceito já consolidado, como a Teoria Restrita da Relatividade, onde diz que o espaço e o tempo também não são entidades físicas imutáveis, teremos a base do conceito espírita sobre a ação do pensamento sobre o fluido como sendo responsável pela estruturação da vida material. Em outras palavras, é a base da teoria dos fluidos.

No movimento espírita é comum ouvir que a matéria é formada por fluido, porém muitas outras coisas não são consideradas nesta colocação, tais como o próprio espaço, o tempo, as forças e, porque não dizer, a massa. Portanto, devemos ter muito cuidado ao dizer que o fluido é matéria, pois este pode se apresentar de diversas outras formas, tais como espaço e tempo, que não apresentam as propriedades do que hoje é considerado matéria.

A concepção de que o espaço e o tempo, assim como a própria matéria e sua massa, são formados por fluido se expressando desta ou daquela maneira, demonstra como se realiza a estruturação da condição de existência referente ao universo conhecido, isto é, a condição denominada de "mundo físico ou material". Esta concepção viabiliza o entendimento de vários fenômenos espirituais, tais como o deslocamento dos desencarnados no espaço, fenômenos de transporte e a presciência ou dupla vista.

Encontramos na Codificação Espírita conceitos que podemos considerar como prenúncio das teorias científicas já existentes. Obviamente que, com o avanço dos conceitos científicos, isto se tornará mais óbvio, pois, como os fenômenos espirituais ocorrem com a matéria sutil, conforme o conhecimento humano adentra nesta região os conceitos deverão convergir.



Artigo originalmente publicado no Jornal Correio Espírita em março de 2014

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PRECONCEITO


10/06/2014

Encontramos, atualmente, nos meios de comunicação e no seio da sociedade grandes debates sobre a questão do preconceito. As abordagens apresentadas são as mais variadas, de todos os tipos e formas. Numa análise, mesmo que superficial, deste tema e daquilo que é tratado nestes debates, vemos que o preconceito pode se manifestar sob numerosos matizes, portanto, devemos tomar muito cuidado quando e se chegarmos à conclusão de que não existe em nós este tipo de sentimento.

A diversidade da maneira como se apresenta faz com que, na grande maioria das vezes, não consigamos perceber sentimentos desta natureza com relação a uma coisa ou outra. Em geral, o preconceituoso não se reconhece como tal.

Segundo o dicionário Michaelis on line, a palavra “preconceito” significa:


"Atitude emocionalmente condicionada, baseada em crença, opinião ou generalização, determinando simpatia ou antipatia para com indivíduos ou grupos."


Percebemos, portanto, que, por se tratar de um entendimento afetivamente carregado decorrente de processos elaborados ao longo do tempo, o indivíduo que nutre sentimento preconceituoso sobre algo ou algum tipo específico de comportamento relacionado a outrem, considera que este sentimento é decorrente de processo racionais e, por isso possuem valor. Em outras palavras, o indivíduo se considera é correto e o que sente passa a ser lícito para ele.

Não temos a pretensão de que esta abordagem seja nova, muito pelo contrário, foi apresentada há dois mil anos de forma clara e notória, e esta origem é de conhecimento geral na parte ocidental do planeta. Ao dizer "Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho? - Ou, como é que dizeis ao vosso irmão: Deixa-me tirar um argueiro ao teu olho, vós que tendes no vosso uma trave? - Hipócritas, tirai primeiro a trave ao vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão.", Jesus vem nos alertar para a nossa condição de equivocados e, por isso, nossa avaliação sempre apresenta um componente tendencioso na qual não percebemos que nosso comportamento é igual aquele que condenamos nos outros, quiçá ainda mais acentuado.

Este ensinamento de Jesus foi inserido no Capítulo X d'O Evangelho Segundo o Espiritismo. Este capítulo é intitulado BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO MISERICORDIOSOS, portanto, um comportamento não preconceituoso é uma questão de caridade.

A população do planeta ainda não se caracteriza pelo exercício da caridade, muito menos em seu significado mais puro, como apresentada por Paulo no Capítulo XV d'O Evangelho Segundo o Espiritismo onde diz que "... quando houver distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria".

Assim, é comum numa sociedade formada por espíritos de nível evolutivo ainda baixo que comportamentos sejam baseados em ideias e conceitos equivocados que foram assimilados ao longo do tempo, especialmente quando se considerar as várias encarnações do espírito. Com isso, o preconceito grassa e todo aquele que busca a sua transformação pessoal necessita estar atento para as suas diferentes formas de expressão.

Outras vezes Jesus deixou claro que os que forem últimos serão os primeiros e os que forem primeiros serão os últimos. Os últimos que serão os primeiros, ou melhor, estarão na nossa frente, são todos aqueles que consideramos como abaixo ou inferiores a nós, pois tal sentimento é demonstração grosseira de orgulho exacerbado e, por lógica, nutrindo o orgulho não estaremos em condição favorável.

O preconceito, seja qual for, apenas coloca o preconceituoso em condição inferior aquele que é o alvo. Ciente disso, também se trata de caridade que aquele que seja alvo entenda o preconceituoso.

Para nós, espíritas, segue que devemos aumentar em muito o cuidado com relação ao que pensamos sobre outras crenças. Devemos ter em mente que cada qual opta pela crença na que melhor se adapta, não existindo, portanto, melhor ou pior, mais avançado ou mais atrasado. Existe apenas a menos adequada e mais adequada para um indivíduo em particular.

Devemos, assim, tomar muito cuidado com as nossas pregações.

Em diversas oportunidades já ouvi divulgadores espíritas, fazendo uso da palavra em pregações públicas, exporem afirmações de que nós, adeptos do Espiritismo, "estamos na universidade do espírito, enquanto nossos irmãos desta ou daquela vertente religiosa ainda estão no caminho" ou "o Espiritismo não é a religião do futuro, mas o futuro das religiões", em grave demonstração de preconceito e superioridade.

Colocações deste tipo não auxiliam em nada o movimento espírita, muito pelo contrário, contribui apenas para a exacerbação do orgulho dos seus adeptos, colocando aqueles que ouvem e que acreditam na assertiva e que passam a pensar desta forma também a sentirem preconceito com relação às outras crenças, posicionando-se no lugar do primeiro que será o último.

Devemos ficar alertas todas as vezes que cremos ser melhores que outros, pois é sinal de preconceito.

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PRINCÍPIO DAS COISAS


29/05/2014

Provavelmente o homem tenha sentido, desde que nele se estabeleceu a consciência do eu, a necessidade de saber como tudo começou, entender a origem e o funcionamento.

Na antiguidade, quando muito pouco se sabia e se poderia compreender, pois o conhecimento é um processo continuado, elaborado e aprimorado ao longo do tempo, surgiu o que é conhecido como O Velho Testamento, mais precisamente o livro Gênesis. Neste livro, mais histórico que religioso, encontramos os primórdios de uma explicação sobre o aparecimento das coisas, nele, o evento que deu surgimento de tudo que se poderia conceber recebeu o nome de "Deus" e o processo criativo foi descrito como sendo comandos verbais, tal como "Faça-se a luz".

O tempo passou e o homem foi observando e aprendendo. Surgiu a ciência mais organizada com os gregos, estabelecendo o procedimento através do qual os fenômenos estudados eram explicados através de leis devidamente formuladas e documentadas para posterior referência. Como é de se esperar, nem sempre as leis eram corretas ou precisas, necessitando de depuração posterior.

Quando o final do século XIX se aproximava, o homem, em decorrência da pouca visão e do orgulho, acreditava ter descoberto tudo que havia para ser desvendado. Todavia, neste mesmo período, como consequência de certos experimentos, teve início o que foi chamado de Física Quântica, mudando tudo que se pensava acerca dos fenômenos materiais, causando uma verdadeira revolução do conhecimento. Importa ressaltar que muitas das descobertas e observações da Física Quântica ainda são uma incógnita, mesmo para os cientistas da área.

Cada vez mais a ciência busca compreender o princípio das coisas, construindo equipamentos e procedimentos de complexidade crescente. Podemos citar como exemplos o telescópio Hubble que orbita a Terra "observando" os eventos em grande escala na amplidão do espaço e, por outro lado, o LHC - Large Hadron Colider, o maior acelerador de partículas já construído, "observando" os eventos em pequeníssima escala no microcosmo das partículas, visando reproduzir o que ocorreu nos momentos iniciais do surgimento do universo conhecido. Muito já foi conquistado, todavia, ainda resta uma grande distância a percorrer.

Com o avanço do conhecimento, podemos afirmar com alguma segurança que a criação do universo, pelo menos este que é denominado de "conhecido", não obedeceu a comando verbais. Todavia, muitos ainda creditam este processo diretamente a Deus.

Sendo Deus a causa primária de todas as coisas, como apresentado na questão primeira d'O Livro dos Espíritos, não podemos deixar de considerar que tudo existe por causa Dele, mas isto não significa que em tudo tenha tido Sua ação direta, caso contrário, qual seria a atribuição dos espíritos?

Com o advento da Doutrina Espírita, tomamos conhecimento da teoria dos fluidos. Esta teoria nos diz que toda matéria é formada por fluido e que este sofre ação do pensamento dos espíritos na formação de corpos materiais. Desta forma, podemos compreender que a formação do universo conhecido esteja atrelado ao trabalho mental de espíritos elevados sobre o fluido, como bem informa o espírito André Luiz no livro Evolução em Dois Mundos no que denominou de "co-criação em plano maior", estabelecendo, assim, a imanência de Deus na formação do nosso universo.

O "princípio dos coisas", portanto, vai muito além do que nos cerca na imensidão do espaço, contudo, cabe ao homem estudar o que lhe está ao alcance para aprimorar seu entendimento e discernimento, com isso, também ocorrerá a evolução moral que o possibilitará cada vez mais adentrar na obra da Criação e, consequentemente, desvendar muitos dos mistérios que ainda nos são ocultos.

Todavia, é preciso lembrar que o trabalho de compreensão cabe a todos, e não apenas aos cientistas, como bem alertou o Espírito de Verdade e que consta n'O Evangelho Segundo o Espiritismo: "Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo", e ainda nos alerta sobre equívocos que foram inseridos como sendo parte da Doutrina de Jesus ao dizer: "No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram”.


Bibliografia:

___; Bíblia de Jerusalém – Nova Edição, Revista e Ampliada; Paulus Editora, 2002.
Kardec, Allan; A Gênese; 37a. edição, FEB, 1996.
___; O Livro dos Espíritos; 77a. edição, FEB, 1997.
___; O Evangelho Segundo o Espiritismo; 112a. edição, FEB, 1996.



Artigo originlmente publicado no Jornal Correio Espírita em Fevereiro de 2014

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CARIDADE


10/05/2014

Durante longos anos ouvimos vários bordões que foram sendo incorporados à cultura popular e, com isso, certos comportamentos passaram a ser considerados normais. Frases do tipo "Uma mão lava a outra" e "eu gosto de levar vantagem em tudo" permanecem na nossa cabeça e, muitas vezes, agimos em conformidade.

Um ponto interessante é que a frase "eu gosto de levar vantagem em tudo" estava relacionada a um comercial de cigarro, em que o interlocutor dizia que escolheu determinada marca por que "gostava de levar vantagem em tudo". Certamente até de "morrer" primeiro....

Todavia, este tipo de comportamento caracteriza espíritos condizentes com um mundo de expiação e provas, por privilegiar certos tipos de pensamento em detrimento de outros. Assim, expressões de orgulho e egoísmo ainda encontram eco no nosso íntimo, enquanto que pensamentos mais nobres são facilmente esquecidos, dentre estes estão os ensinamentos de Jesus.

Há cerca de dois mil anos, Jesus nos deixou o seguinte ensinamento: "Disse também àquele que o convidara: Quando derdes um jantar ou uma ceia, não convideis nem os vossos amigos, nem os vossos irmãos, nem os vossos parentes, nem os vossos vizinhos que forem ricos, para que em seguida não vos convidem a seu turno e assim retribuam o que de vós receberam. – Quando derdes um festim, convidai para ele os pobres, os estropiados, os coxos e os cegos." (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII, item 7)

Este ensinamento é o princípio básico da caridade, contrário, infelizmente, a muito do que se prega na humanidade atual.

Quando analisamos, mesmo que superficialmente, o livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, constituído de 552 páginas apenas, podemos identificar, no nosso comportamento, aquilo necessitamos desenvolver e o que é preciso deixar desaparecer, mesmo que gradativamente. Uma busca rápida do livro em arquivo digital indica: 127 citações da palavra "orgulho; 45 da palavra "humidade"; 54 da palavra "egoísmo" e; 232 da palavra "caridade". Duas coisas para combater, o orgulho e o egoísmo, e duas para desenvolver, a humildade e a caridade.

Nos estudos com os mentores espirituais da nossa casa espírita, recebemos orientação de como proceder com relação ao nossos desejos de transformação pessoal. É um equívoco comum acreditar que se deve manter a atenção no sentido evitar dar vazão as más tendências. Todavia, segundo a orientação recebida, o foco maior deve ser em realizar as ações virtuosas, pois, desta forma, a mente está voltada para o bom, fortalecendo este padrão e, automaticamente, enfraquecendo o outro.

Na visão espírita, a caridade é uma virtude de extrema importância, tanto que a bandeira do Espiritismo é "FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO". Esta abordagem se contrapõem a ao que comumente é pregado com relação a várias vertentes religiosas e filosóficas, com cada uma trazendo a salvação apenas para si.

Ao considerar que a salvação será para os caridosos, verificamos que ela está ao alcance de todos, independentemente de credo. Temos, inclusive, que a crença ou não em Deus e em Jesus não é fator preponderante, pois várias são as vertentes filosóficas, sendo que muitas delas são consideradas como religião pelo ocidente, não contemplam a existência de um Deus, todavia, não seria impeditivo para estarem "salvos".

Podemos, ainda, aprofundar um pouco mais o entendimento das palavras de Jesus quando disse: "Ninguém pode ir ao Pai se não for por mim". Se aplicarmos a lei apresentada anteriormente, "por mim" não deve ser interpretado como a pessoa de Jesus, mas o que ele representada, que é a caridade em maior grau conhecido na Terra, por ter aqui encarnado para exemplificar os ensinamentos, apesar do que tenha sido necessário e que não temos condições de avaliar.

Precisamos, então, procurar compreender mais profunda e acertadamente o que seja "caridade" e "salvação".

"Caridade" é um conceito complexo, apesar de parecer simples, e foi magistralmente apresentado por Paulo, como consta n'O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XV:

"Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; – ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda a fé possível, até ao ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade,nada sou. – E, quando houvesse distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria.

"A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; – não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.

"Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas, a mais excelente é a caridade."

Sob o conceito de "caridade" apresentado por Paulo, podemos perceber que a caridade em si é um sentimento, o moto da ação, e não a ação em si ou por si mesma.

Certamente que por "salvação" não devemos entender como o conceito antigo de que "salvação é ir para o céu", incluindo a interpretação, também antiga, do que seja o céu. Sabemos que, não apenas um, mas inúmeros locais de felicidade eterna existem, que são os mundos mais evoluídos, todavia, não são locais onde, os que lá habitam, passam seus dias na ociosidade, ouvindo harpas ou coisas semelhantes, mas onde habitam os espíritos que trabalham para a finalidade da Criação, onde não podemos imaginar momentos de ociosidade.

Como seres viventes em m mundo de expiação e provas, devemos interpretar "salvação" como "trabalho pela transformação íntima" ou "trabalho para a finalidade da Criação", isto é, "trabalho por nós mesmos". Como espíritos endividados, devemos interpretar nossa situação como expressa por Paulo, n'O Livro dos Espíritos, questão 1009: “Quem é, com efeito, o culpado? É aquele que, por um desvio, por um falso movimento da alma, se afasta do objetivo da criação, que consiste no culto harmonioso do belo e do bem..."

Assim, podemos resumir dizendo que caridade, humildade, orgulho e egoísmo não são atos, mas sentimento. Os atos desta ou daquela qualidade são consequência dos sentimentos.

Precisamos, urgentemente, repensar nossos valores tanto na vida cotidiana quanto dentro das casas espíritas. É muito comum ouvirmos que "precisamos fazer a caridade" ou "caridade começa em casa", todavia, pelo que foi visto, caridade não se faz, mas se sente - ajudar ao outro unicamente pelo simples desejo de ajudar ao outro.

Podemos então dizer "precisamos exercitar a caridade em nós". Como a exercitamos? Pela prática do amor ao próximo, abnegação e altruísmo.

Assim, caridade não tem início nem final, portanto, não podemos definir onde começa e onde termina.



Originalmente publicado no site www.espiritismo.net em 01/05/2014

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DEUS ÚNICO


28/04/2014

No primeiro capítulo do livro A Gênese, Kardec trata das três principais revelações, que são as de Moisés, de Jesus e do Espiritismo. Com relação as revelações de Moisés, podemos dizer que a mais importante seria o conceito de Deus único trazido no seio de um povo politeísta e que passou a servir de norte para questões concernentes à divindade, simplificando as práticas de adoração.

Conceitos relativos a Deus sempre serão de difícil entendimento para o espírito ainda não evoluído, pois não se tem uma experiência concreta logo de imediato, são conceitos abstratos que devem ser elaborados e desenvolvidos através de práticas religiosas para, depois de exercitadas, serem aplicadas na vida cotidiana. Atingindo a plenitude a experiência de Deus, este deixa de ser abstrato para ser concreto, momento em que surge a certeza de sua existência e não mais a pura crença.

Em decorrência desta dificuldade, a crença na existência de vários deuses acarreta uma complexidade ainda maior, cuja extensão dependerá do número de deuses em que se crê existir, pois, invariavelmente, haverá discussões e conflitos acerca de qual seria o melhor e maior, tipo de rituais, preferências pessoais, etc.

As dificuldades decorrentes deste tipo de crença é melhor compreendida quando comparamos o comportamento humano diante dos times de futebol e partidos políticos, onde, muitas vezes, perde-se o controle e reações mais arbitrárias ocorrem, quando não violentas.

Todavia, apesar de convivermos com a revelação do Deus único por mais de quatro mil anos, ainda encontramos comportamento politeísta em grande escala na parte ocidental do planeta. o grande problema atualmente não é a crença politeísta de agrupamentos e povos como na época de Moisés, mas por ocorrer a nível de países.

Desde algum tempo até os dias atuais a questão principal deixou de ser o politeísmo claro, consistindo de diferentes deuses representando coisas específicas, mas um politeísmo velado, muitas vezes com um único nome ou representando definições semelhantes, mas conceitos que podem ser muito diferentes. Se tornou comum ouvir frases do tipo: "creio em deus, mas não no deus das religiões"; "o deus desta ou daquela religião", etc, demonstrando a existência de variados conceitos acerca da divindade.

Encontramos comportamento politeísta entre grandes religiões de origem comum no ocidente, com cada uma considerando "possuir" o deus mais forte e mais sábio. Destas divergências de opinião surge a intolerância religiosa, da mesma forma que a intolerância política ou do futebol, chegando a culminância das guerras em nome destes diferentes conceitos de deus.

Desta forma, pode-se até considerar o monoteísmo vigente no seio dos adeptos de uma mesma religião ou vertente de pensamento, mas existe a multiplicidade entre as diferentes religiões ou vertentes de pensamento.

Percebe-se, portanto, que a vivência em acordo com o conceito de Deus apresentado por Kardec no capítulo dois do livro A Gênese, isto é, uma postura pacífica e pacifista perante a vida e os outros, é muito mais adequado do que a crença ou não da existência de Deus, como se tem a possibilidade de se verificar em adeptos de certas vertentes filosóficas.

Esta abordagem não contradiz com os ensinamentos de Jesus, pois, segundo ele, os mandamentos podem ser resumidos em dois: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo". Devido à semelhança dos dois conceitos, alguém somente pode amar a Deus se amar ao próximo, assim sendo, quem ama ao próximo, por definição, também amará a Deus independentemente da sua crença.

Nos escritos de C. G. Jung disponibilizados há poucos anos no livro conhecido como O Livro Vermelho, encontra-se uma colocação muito interessante e que pode perfeitamente ser entendido à luz dos mandamentos segundo Jesus. Diz Jung: "Ninguém possui meu Deus, mas meu Deus possui a todos, inclusive a mim. Os deuses de todas as pessoas individuais possuem sempre todas as outras pessoas, inclusive a mim mesmo".

Quando a humanidade chegar a condição de compreender que a interpretação pessoal de Deus deve considerar que Ele ama a todos indiscriminada e independentemente de qualquer outra coisa será possível, finalmente, contar este como figurando entre os mundos de regeneração.


Bibliografia

A. Kardec; A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo; 36ª edição, FEB, [1868] 1995.
C. G. Jung; O Livro Vermelho - Liber Novus; 2 edição, Editora Vozes, 2013, pg 155.



Artigo publicado originalmente no jornal Correio Espírita em janeiro de 2014

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150 ANOS DO EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO


31/03/2014

Muitos, inclusive no meio espírita, demonstram dificuldades em compreender algumas características principais dos textos que apresentam o Evangelho de Jesus. Para viabilizar o entendimento e, com isso, o estudo, é necessário algumas definições:


Canônico – relativo aos dogmas da Igreja;

Apócrifo – que não foi reconhecido como devidamente inspirado.


Têm-se, então, os Evangelhos Canônicos como aqueles que são reconhecidos pela Igreja, enquanto que os Evangelhos Apócrifos não são considerados como merecedores de crédito, por não terem sido reconhecidas as suas origens.

Importa ressaltar que a avaliação do que é canônico ou apócrifo data de longo tempo e foi realizada por indivíduos responsáveis pelo direcionamento da igreja. Importa esclarecer que tal direcionamento serve única e exclusivamente para os seus adeptos, podendo e devendo ser questionado por todos.

Assim, com o passar do tempo, a população, de forma geral, se habituou a considerar apenas os ensinamentos e passagens de Jesus apresentada pelos Evangelhos Canônicos, a saber (em ordem alfabética): O Evangelho Segundo João, Lucas, Marcos e Mateus. Estes quatro evangelhos constituem o denominado Novo Testamento.

Na introdução d’O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec apresenta, logo nas primeiras linhas, uma importante avaliação e considerações sobre a obra original da qual a informação foi retirada para o desenvolvimento da obra kardequiana. Diz ele que a informação contida no Novo Testamento pode ser agrupada em cinco partes:


1) Os atos comuns da vida do Cristo;

2) Os milagres; as predições;

3) As palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento de seus dogmas;

4) O ensino moral.


Ainda segundo Kardec, as quatro primeiras partes são questionáveis, isto é, são passíveis de controvérsias. A quinta e última parte consiste de conteúdo inconteste, por se tratar de um direcionamento moral para nortear a vida daqueles que se dizem cristão e, por isso, foram utilizados na elaboração d’O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Importa ressaltar que o Novo Testamento não consiste do Evangelho de João, de Lucas, de Marcos e de Mateus. A colocação acertada é dizer que o Novo Testamento consiste do Evangelho Segundo João, Segundo Lucas, Segundo Marcos e Segundo Mateus, isto significa dizer que o Evangelho é um só, mas exposto em acordo com o entendimento pessoal daquele que o escreveu. Os evangelhos canônicos se referem às versões consideradas, por um grupo de pessoas, como corretas. Em outras palavras, os evangelhos canônicos são a apresentação do Evangelho de Jesus segundo algumas pessoas que, por sua vez são consideradas corretas segundo outras pessoas.

Outras questões também são importantes e precisam ser consideradas:


1) O original do Evangelho Segundo Mateus nunca foi encontrado, portanto esta versão é creditada a Mateus (as cópias eram feitas à mão);

2) Marcos era criança quando Jesus apresentou seus ensinamentos;

3) Lucas não conviveu com Jesus;

4) João escreveu sua versão do Evangelho quarenta anos após a desencarnação de Jesus.


Sob esta análise, O Evangelho Segundo o Espiritismo não apresenta um resumo do Novo Testamento, mas a próprio Evangelho de Jesus de acordo com o entendimento e considerações dos espíritos (inclusive Kardec como espírito encarnado que era) responsáveis pela Codificação Espírita, isto é, segundo o espiritismo.

Em uma linguagem comum, pode-se dizer que os evangelhos canônicos são a versão oficial do Evangelho de Jesus para a Igreja e o O Evangelho Segundo o Espiritismo seria a versão oficial para o Espiritismo.

Uma curiosidade é que, para a Igreja, O Evangelho Segundo o Espiritismo seria apócrifo.

Torres Pastorino, profundo conhecedor das escrituras e responsável pela grande obra Sabedoria do Evangelho, descreveu algumas posturas necessárias para aquele que desejar compreender os textos bíblicos, as quais estão apresentadas a seguir:


1. Isenção de preconceitos;

2. Mente livre, não subordinada a dogmas;

3. Inteligência humilde, para entender o que realmente está escrito, e não querer impor ao escrito o que se tem em mente;

4. Raciocínio perquiridor e sagaz;

5. Cultura ampla e dinâmica;

6. Coração desprendido (puro) e unido a deus.


Pastorino também estabeleceu algumas regras para este estudo:


1. Estudar o trecho e cada palavra gramaticalmente, dentro das regras léxicas, sintáticas e etimológicas, assim como do uso tradicional dos termos e das expressões;

2. Interpretar o texto de acordo com o contexto;

3. Quando há dificuldade, consideremos o objetivo do livro ou do trecho, e interpretemos o “pequeno” dentro do “grande”, o pormenor dentro do geral, a frase dentro do período;

4. Comparar Escritura com Escritura, é melhor que fazê-lo com obras profanas.


Ficamos então com oseguinte alerta encontrado n'O Evangelho Segundo o Espiritismo:


Meus bem-amados, são chegados os tempos em que, explicados, os erros se tornarão verdades. Ensinar-vos-emos o sentido exato das parábolas e vos mostraremos a forte correlação que existe entre o que foi e o que é. Digo-vos, em verdade: a manifestação espírita avulta no horizonte, e aqui está o seu enviado, que vai resplandecer como o Sol no cume dos montes.
João Evangelista (Paris, 1863.)

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QUANDO INICIA E TERMINA A EXPIAÇÃO, A PROVAÇÃO E A REGENERAÇÃO?


10/03/2014

Estamos acostumados a ouvir que o planeta Terra está, atualmente, na categoria de mundo de expiações e provas, conceito compatível com o Cap. III d'O EvangelhoSegundo o Espiritismo. Contudo, precisamos estar atentos para o fato que expiação e provação são duas coisas que, apesar de próximas, são distintas.

Por "expiação" devemos entender processos e situações que visam a educação do espírito considerados desagradáveis visando que o espirito, vivenciando-os, estabeleça uma correlação entre comportamento e consequências, o princípio básico da lei de causa e efeito, ou mais precisamente, mente e efeito tendo em vista que comportamento está relacionado com a postura mental.

Por "provas" devemos entender como processos e situações que servem para fortalecer as decisões relacionadas com o processo evolutivo do espírito. Desta forma, com a repetição de uma mesma ou situações semelhantes, acarretará invariavelmente respostas adequadas, e o espírito poderá estabelecer e fortalecer um padrão de comportamento condizente com o avanço evolutivo, isto é, a moral.

A questão 629 d'O Livro dos Espíritos trata sobre a definição de moral, conceito abstrato ainda difícil para o nosso entendimento:


629. Que definição se pode dar da moral?
“A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.”


A questão apresentada esclarece sobre a necessidade do bem proceder independente dos eventos da nossa vida. Estes eventos consistem na interação com as outra pessoas e situações; por "interação", podemos entender "estímulos".

Todo estímulo acarreta uma reação, mesmo que seja a sua pura observação ou percepção e, dependendo do estímulo que recebemos, reagimos desta ou daquela forma. Por exemplo, a um sorriso sincero (estímulo) respondemos com outro sorriso e sensação agradável (reação).

Os estímulos bons são fáceis de reagir bem, mas quando se trata daqueles não tão agradáveis a situação pode ser diferente.

Podemos, portanto, entender "moral" como sendo a resposta adequada para os diversos estímulos, independentemente da sua qualidade. Precisamos, para isso, de duas etapas: 1) saber qual é a resposta adequada para cada situação e; 2) sermos capazes de o fazer. Pode até parecer simples, mas se torna complicado na prática.

A questão do bem, do mal e da reposta adequada não é simples para o nosso entendimento e podemos encontrar um pouco mais de esclarecimento na pergunta 638 d'O Livro dos Espíritos, esclarecendo um ponto importante que, a primeira vista, pode não ser tão claro:


638. Parece, às vezes, que o mal é uma consequência da força das coisas. Tal, por exemplo, a necessidade em que o homem se vê, nalguns casos, de destruir, até mesmo o seu semelhante. Poder-se-á dizer que há, então, infração da lei de Deus?
“Embora necessário, o mal não deixa de ser o mal. Essa necessidade desaparece, entretanto, à medida que a alma se depura, passando de uma a outra existência. Então, mais culpado é o homem, quando o pratica, porque melhor o compreende.”


A resposta apresentada pelos espíritos, quando não analisada adequadamente, pode criar certa dificuldade de entendimento, pois como pode o mal ser necessário? Parece, com isso, que Deus tenha criado o mal?

Visando melhorar a compreensão nesta questão que pode causar muitas dúvidas, vamos analisar a resposta em partes.


1a parte da resposta) "Embora necessário, o mal não deixa de ser o mal."

Ao observamos detalhadamente nosso próprio comportamento, assim como o da humanidade em geral, verificamos que existe certa falta de compreensão dos direitos e deveres individuais e coletivos. Em decorrência disso, há uma tendência de, por um lado, se expandir além dos limites o que consideramos nossos direitos e, por outro, relegamos a segundo plano os nossos deveres. Tal comportamento denota uma exacerbação do egoísmo.

Kardec, no livro A Gênese, no Cap. III - O Bem e o Mal, apresenta profunda elucidação a este respeito:


"10. Estudando-se todas as paixões e, mesmo, todos os vícios, vê-se que as raízes de umas e outros se acham no instinto de conservação, instinto que se encontra em toda a pujança nos animais e nos seres primitivos mais próximos da animalidade, nos quais ele exclusivamente domina, sem o contrapeso do senso moral, por não ter ainda o ser nascido para a vida intelectual. O instinto se enfraquece, à medida que a inteligência se desenvolve, porque esta domina a matéria."


Diante do exposto pelo Codificador, temos que o instinto de conservação, necessário para manutenção da própria vida, pode, em algum momento e em virtude da falta de entendimento do espírito, degenerar-se em egoísmo, gerando desarmonias de tal monta que causa a perda da sua utilidade mais básica - a própria conservação, pois, nesta condição o espírito se coloca em situações que põem em risco, chegando mesmo a por fim, ã própria existência corporal.

Neste estágio em que o sofrimento se instala, mesmo que o espírito não o perceba, têm início a prática do mal pelo espírito, pois todo aquele que pratica o mal gera em si mesmo as consequências. Neste momento o mal se torna necessário para que o próprio espírito se conscientize dos seus efeitos nocivos.

Talvez possamos dizer que este é o ponto determinante para o início da existência do espírito em uma condição de expiação.


2a parte da resposta) "Essa necessidade desaparece, entretanto, à medida que a alma se depura, passando de uma a outra existência"

Nesta segunda parte da resposta fica claro que a depuração do espírito o conduzirá ao entendimento das consequências nefastas do egoísmo para si mesmo e para os outros. Ainda não regenerado, nos estágios iniciais de conscientização, podemos esperar que o motivo pelo qual o indivíduo procura não fazer o mal ainda será pelo próprio egoísmo, isto é, para não causar o mal para si mesmo.

Similarmente à condição anterior, talvez possamos dizer que este é o ponto determinante do final da expiação para o início das provas, quando, mesmo diante de determinadas situações que seria possível o comportamento inadequado, o espírito exercita se manter firme na sua decisão. Assim, com o passar do tempo, o espírito exercita não causar danos aos outros até que, em franca regeneração, o motivo para este comportamento passa a ser decorrente de desejar o bem para o próximo e para a sociedade como um todo, adentrando, finalmente, na condição de regeneração.



Artigo originalmente publicado no site www.espiritismo.net em 16/02/2014

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CONSIDERAÇÕES SOBRE DEUS E O ESPÍRITO


17/02/2014

Na questão primeira d'O Livros dos Espíritos, Kardec questiona os espíritos sobre o que, e não quem, seria Deus, deixando claro que seu interesse seria a estrutura da divindade em si e não o que ele representa.

No sentido de esclarecer um pouco mais sobre como foi estruturada a pergunta, podemos utilizar o exemplo de uma empresa. Se perguntarmos quem é o presidente, obteremos como resposta um nome que representa alguém que, por sua vez, ocupa o cargo relativo à presidência da empresa.

Porém, se perguntarmos o que é o presidente, obteremos como resposta se tratar de uma pessoa, podendo haver maiores esclarecimentos, tais como sexo, idade, jovialidade, capacidade para o cargo, até mesmo, eventualmente, o nome. Portanto, estaremos interessado na estrutura e características.

Assim, podemos deduzir que, quando propôs a pergunta, Kardec estava interessado no que consiste a divindade e/ou suas características principais no intuito de aprimorar o entendimento daquilo que representa o que denominamos de "Deus".

A resposta, todavia, não poderia ser mais contundente, concisa e precisa, apesar de não explicitarem a estrutura em si. Ao dizerem que "Deus é a inteligência suprema" deixam claro a Kardec e, consequentemente, a todos nós que estamos tratando de entender um "ser" ou "algo" cuja característica principal é ser inteligente em grau máximo. Desta forma, fica claro também a dificuldade que encontraremos na busca da compreensão deste ponto em particular, pois se há um abismo entre duas pessoas quando uma está em um nível, sobre um tema qualquer, muito superior que a outra devido à falta de recursos desta, apenas para fins de comparação, é impossível explicar o cálculo matemático de derivadas ou integrais para aquele que não sabe, sequer, a tabuada, quanto mais quando relacionado com a divindade.

Na continuação da resposta temos que, além de "inteligência suprema", também é a "causa primária de todas as coisas", deixando claro que tudo o que existe, conhecido ou não, neste e noutros universos, é decorrente desta inteligência que, sendo "suprema", fará ou criará tudo com perfeição compartilhando, assim, de seus atributos. Este conceito é apresentado novamente por Kardec no livro A Gênese, mais precisamente no Capítulo II.

Contudo, devemos considerar que nem tudo é criação direta de Deus, pois seus filhos, os espíritos, podem atuar no fluido cósmico pelo pensamento como apresentado também no livro A Gênese, desta vez no Capítulo XIV, pelo processo de criação fluídica cujo resultado também compartilha dos atributos do espírito responsável pela "criação".

A perfeição na permissão dada por Deus para a criação fluídica por parte dos espíritos estaria exatamente no compartilhamento dos atributos deste, pois deverá, obviamente, repercutir nele as características boas ou más daquilo que criou, fazendo, portanto, que cada um aprenda com seus próprios pensamentos e atos, num aprimoramento contínuo e sem solução de continuidade por ser uma processo intrínseco ao espírito.

Na questão 23 de O Livro dos Espíritos, Kardec questiona, similarmente à pergunta de número um, sobre o que seria o espírito, obtendo como resposta se tratar do "princípio inteligente do Universo"; não é suprema, é passível de se aprimorar.

Desta forma, podemos concluir que por "espírito" entende-se que se trata de um processo, semelhante ao que ocorre na condição de encarnado, iniciando sua jornada na infância e se aprimorando com o passar do tempo, porém em escala muito maior, enquanto que Deus não se trataria de um processo, Ele simplesmente "é", assim, um ser cuja característica principal é estar ou ser um "processo" poderá compreender os que lhe são semelhantes, todavia, carece de recursos intelectuais para compreender o que lhe é diferente.



PS. Este texto foi originariamente publicado no jornal Correio Espírita de dezembro de 2013.

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REFLEXÃO


03/02/2014

O serviço de desobsessão dá ensejo para que espíritos equivocados, ainda transitando pela crosta terrestre, sejam conduzidos pelos mentores espirituais a entrar em comunhão com encarnados através do transe mediúnico. Quando ligados à mente mediúnica, estarão em condições de expor seus receios e problemas em geral para, através da sua doutrinação, estar em condições de seguir sua caminhada como espírito imortal na senda evolutiva a que todos nos encontramos.

Certa feita, em uma reunião para esta finalidade, dois espíritos se comunicaram, um após o outro. Seus relatos foram mais um ensinamento para os presentes do que um atendimento propriamente dita, o que, todavia, não deixou de ocorrer.

Ambos disseram que há algum tempo frequentavam aquela casa espírita e que, por este motivo, conheciam a todos nós e muitos dos encarnados que, por um motivo ou outro, lá aportavam. Disseram que muitos de nós, assíduos frequentadores, apesar de todo estudo, ainda éramos muito insipientes e que tínhamos medo da alma dos mortos, apesar de nos mostrarmos crentes do Espiritismo.

Mais que isso, terminaram seus discursos dizendo que, voltando a encarnar e que, porventura, se dedicassem ao mesmo trabalho, isto é, atendimento a espíritos equivocados, certamente estariam recebendo muitos de nós em uma sessão de desobsessão.

Analisando o conteúdo desta manifestação é possível perceber que se tratava de espíritos lúcidos, cônscios da sua existência e da realidade da vida imortal. Todavia, ainda renitente em promover a transformação pessoal, tão necessária quanto trabalhosa.

Diante de tudo o que disseram não é possível crer que estivessem equivocados, pois esta é a representação real da grande maioria que frequenta os templos religiosos, seja de que vertente for.

Não poderia haver forma mais convincente e adequada para que recebêssemos o aviso. É hora de trabalhar e, mais ainda, saber realizar o trabalho adequadamente. Para isto, é necessário o estudo, analisando o conteúdo para que este possa ser assimilado pela consciência para, posteriormente, adentrar na região dos automatismos, quando a caridade será tão natural quanto o próprio caminhar.

Afinal, como diz André Luiz no livro Evolução em Dois Mundos, nós sabemos equilibrar a circulação do sangue para garantir a segurança do ciclo cardíaco, mas ignoramos como libertar o coração do cárcere de sombras...

A compreensão da realidade do espírito é de fundamental importância para a decisão de renovação, que será mais firme quanto maior for o entendimento.



Obs: Segmento de texto extraíto do artigo Espírito e Matéria

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A LEI DE AFINIDADE E NÓS


21/01/2014

Quando a humanidade considerava apenas a existência de céu ou inferno, como as opções eram poucas, no final, não pensávamos muito a respeito do pós-morte. Todavia, o conhecimento espírita abre um novo leque de questionamentos sobre o como será a existência após a desencarnação e na nossa vida de relação no plano material. Tais como:


1. Quando eu desencarnar vou encontrar minha mãe (pai, avô, avó, filho, filha, esposa, marido, etc)?
2. Quem virá me encontrar, será meu espírito guardião?
3. Para onde vou? Nosso Lar (sonho de todo espírita)?
4. Qual é a relação espiritual entre os membros de minha família?
5. Quais são minhas companhias espirituais?



A resposta, apesar das aparências, não é difícil, pois, quando se analisa estas questões sob a ótica da lei de afinidade, elas (as respostas) surgem naturalmente. Na nossa acanhada avaliação, Deus, com esta lei, resolve inúmeras questões, pois, o princípio básico é que, dentro da infinidade de mundos e condição de espíritos, cada um se ajustará ao mundo e as companhias compatíveis com sua forma de pensar e comportamento.

Na tentativa de elucidar um pouco mais esta lei, vamos imaginar duas avenidas: Av. A com motoristas bons e educados e Av. B com os motoristas que não respeitam as regras de trânsito nem, tampouco, a da boa convivência.

Se, de um momento para outro, cada um tivesse a possibilidade de escolher em qual via transitar. Podemos imaginar que em poucos minutos as duas vias estariam em iguais condições, com motoristas dos dois tipos, os maus motoristas perturbando o bom andamento do trânsito.

A lei de afinidade agrupa os espíritos afins naturalmente, assim, os motoristas da Av. B não poderiam perturbar a paz da Av. A.

Se analisando uma simples avenida podemos facilmente compreender a necessidade desta lei para o bom andamento das coisas para aqueles que mantém uma postura de respeito as leis e as outras pessoas, fica muito mais patente quando pensamos em termos de mundos inteiros.

Sob este prisma, fica fácil de escolher os amigos espirituais, basta adotar comportamento sadio para sermos sadios e atrairmos os bons espíritos e, consequentemente, repelir os maus; em contrapartida, comportamento equivocado atrai espíritos equivocados.

A questão 484 d'O Livro dos Espíritos fornece uma preciosa informação para nós, espíritos de um mundo de expiações e provas:


484. Os Espíritos se afeiçoam de preferência a certas pessoas?

“Os bons Espíritos simpatizam com os homens de bem, ou suscetíveis de se melhorarem. Os Espíritos inferiores com os homens viciosos, ou que podem tornar-se tais. Daí suas afeições, como consequência da conformidade dos sentimentos.”


Vemos, portanto, a infinita bondade e justiça do Criador se fazendo presente em suas leis. Espíritos ligados a um mundo de expiação e provas são equivocados por definição, portanto, suscetíveis de se ligarem aos espíritos também equivocados, contudo, a intenção e a propensão também são fatores cruciais. Assim, precisamos procurar ser "suscetíveis de nos melhorarmos" para podermos atrair a simpatia dos bons espíritos, o que já torna muitos mais factível para nós.

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PRINCÍPIO INTELIGENTE OU ESPÍRITO


09/01/2014

No meio espírita é comum utilizar as denominações de “espírito”, o ser que habita os corpos humanos, e “princípio inteligente”, algo que habita os corpos dos animais, como se o primeiro fosse decorrente o segundo, tal como uma elaboração ou aprimoramento.

Este conceito é completamente desconfortável, pois descreveria a criação de Deus como sendo elaborado em etapas, isto é, criaria algo que necessitaria de aprimoramento. Se considerarmos que Deus é perfeito, como explicar que o que Ele faz necessita de aprimoramento?

Em texto publicado anteriormente, em 12/01/2010, intitulado “Animais e Vegetais” (http://ccconti.com/Texto3/textos3.htm#texto3), apresentamos uma análise sobre o processo evolutivo do espírito e sua relação com o vegetal e animal, analisando as questões 27, 598, 606, 601, 602, 604, 607 e 609 d’O Livro dos Espíritos.

Como conclusões principais têm:


1) Após a morte, o animal conserva sua individualidade e sua inteligência, apesar de não se manifestar com toda intensidade. Apesar de encontramos n’O Livro dos Espíritos que os animais, após a desencarnação, não conservam a consciência de si, não significa que não a tenham durante a encarnação e, tampouco, que não tenham uma consciência e que, por isso, possam elaborar processos mentais e vivenciar sentimentos;

2) A inteligência do homem e dos animais emana de um único princípio;

3) As almas dos animais não tem um fim, o que está em acordo com a bondade divina;

4) A alma dos animais não permanece sempre na mesma espécie, portanto, está sujeita a lei do progresso;

5) O aprendizado do espírito é um processo que se inicia na condição de animais.



Por “princípio inteligente” devemos analisar como sendo o gérmen da inteligência, isto é, a fonte da onde é extraído o material, se é que podemos definir desta forma, para a criação de seres inteligentes, assim como o “princípio material” seria a fonte de onde é extraído o material para a criação das coisas materiais, desde um simples átomo até o universo conhecido.

Surgiu recentemente um novo ingrediente nesta questão: Em meados de 2013, um grupo de neurocientistas assinou um manifesto afirmando que a consciência não é um atributo apena dos animais da espécie humana, mas atributo compartilhado com outras espécies como os mamíferos, aves e polvos.

O que se verifica em vários sites que trataram do assunto é a questão: O que isto muda nosso estilo de vida?

Para nós, espíritas, fica a questão: Ainda vamos diferenciar, em termos espirituais, o animal do hominal?

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BALANÇO DE VISITAÇÃO NO SITE


03/01/2014

O site www.ccconti.com é um site pessoal destinado a divulgação da Doutrina Espírita apresentando textos, estudos, artigos publicados em periódicos espíritas, seminários e todo o tipo de estudo que tenhamos elaborado, visando apresentar de forma clara e simples alguns conceitos complexos e, muitas vezes, controversos.

Apresentamos abaixo a evolução de visitação do site. Como se percebe, o número de visitas vem crescendo desde 2009, ano de lançamento do site.

Apresentamos, também, os países dos quais recebemos visitas (relativo a dezembro de 2013), portanto, não estamos limitados ao Brasil.

Com o auxílio na divulgação do site poderemos aumentar ainda mais.

Aproveito a oportunidade para agradecer a todos aqueles que já vêm auxiliando nesta divulgação e aqueles que, carinhosamente, atenderão nosso apelo.

Feliz 2014




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