Segunda Dissertação de Henrique (espírito)
Texto psicografado em 2009

PARTE 1


Em 1846, quando cheguei, fui levado imediatamente para a plantação de café, no sul do Estado de São Paulo. Meu nome, Quincas Brito.

Obviamente que não é meu nome de nascença, mas como a Dona Hermínia, esposa do Capitão Nogueira, me chamou.

Todos os escravos eram batizados com nome latino assim que chegavam à fazenda. Diziam que traria má sorte se não fizessem isto. Era Dona Hermínia que escolhia o nome de todos. Não era um nome que eu desgostava, mas também não me dizia nada. Meu nome africano é Zombai Mambei.

Hoje, como desencarnado, me apresento como Henrique.

Não, aquela não foi minha última encarnação. Tive mais uma, pois desencarnei muito jovem, 15 anos, por picada de cobra.

A vida na fazenda era de trabalho duro, mas os donos eram boas pessoas, se é que dono de escravo podia ser “bom”. Eram “tementes a Deus”. Talvez não temessem tanto, mas não maltratavam os escravos nem passávamos fome ou frio. Não tenho o que reclamar.

A vida era lavoura-almoço-lavoura-jantar-dormir-café-lavoura-....

Entre o jantar e dormir tinha tempo para conversar e realizar alguns rituais que as negras mais velhas sabiam. Manifestações de vários tipos: caboclos, crianças, velhos, negros, homens, mulheres, etc.

Alguns, os mais informados, nos falavam da vida após a morte. Nestas ocasiões, nós, os mais jovens, íamos dormir com medo, olhando para os lados e as sombras do fogo que crepitava no centro eram fonte de grande imaginação.

Lembro-me de um espírito que se chamava Padre Pio que dizia ter sido padre, falava sobre Deus e Jesus e nos incitava à oração. Muito bom o espírito.

Outro, chamado Zeca Pião, nos dizia onde o Capitão guardava o ouro e o dinheiro. Ninguém nuca teve coragem de conferir, ao menos enquanto eu estava vivo.

Após o meu desencarne, permaneci na colônia de escravos. Havia muitos outros que já estavam mortos, mas que lá permaneciam.

Fiquei por um bom tempo. Às vezes eu via um grupo de brancos buscarem alguns negros por vez. Até que chegou minha vez.

Depois que parti me vi em local onde éramos muito bem tratados. Tomávamos banho e estudávamos.

Gradativamente percebi o porquê eu havia sido escravo. Não foi por ter sido dono de escravo ou feitor. Fui “apenas” inconsequente.

Ali, junto dos negros, aprendi a valorizar as coisas, até uma simples fruta, pois era alimento precioso. Mas, acima de tudo, aprendi sobre a realidade do espírito.

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PARTE 2


A vida na comunidade de escravos, vendo manifestações de espíritos através dos negros e negras, e o contato com encarnados e desencarnados após minha desencarnação, me fizeram ver que a morte física não acaba com a vida.

Esta experiência foi de grande valia para minha vida de espírito.

Após esta estada na senzala, segui com outros espíritos que vinham, de tempos em tempos, buscar os negros desencarnados.

Seguimos para um local semelhante a uma comunidade. Aprendemos muitas coisas lá.

Corria o ano de 1920 da Terra quando fui preparado para reencarnar.

O processo reencarnatório é deveras interessante. O grupo é identificado e conduzido a uma espécie de terapia. Conversamos diariamente com uma espécie de psicólogo, contamos nossos receios e temores, traumas e alegrias passados.

Esta terapia é um longo processo. Às vezes somos hipnotizados para desbloquear a informação que mantemos sob grossas camadas, quase intransponíveis, inclusive com a terapia.

Muitos traumas e fobias percebidas nos encarnados da Terra são decorrentes do espírito bloquear a informação e não permitir que aflore e possa ser tratado pelo psiquiatra reencarnatório. Infelizmente, o indivíduo terá que conviver com s aflições mentais até que aceite e reconheça o bloqueio.

Muitos podem ficar curiosos sobre os processos para furar o “bloqueio”. Não é tarefa simples de ser realizada sem o auxílio do psiquiatra no processo reencarnatório. Porém, também não é impossível.

Muitos crêem que a reencarnação visa “pagar” faltas cometidas, mas não é bem assim que funciona. A reencarnação é uma oportunidade de reestruturação mental.

O que é chamado de expiação e provas são processos necessários para que as grossas camadas sob as quais a informação (traumas, etc.) se esconde sejam acessadas. O sofrimento e as dores fazem com que o espírito elabore processos mentais específicos para entender o motivo do sofrimento. Estes processos enfraquecem as “grossas camadas”.

Percebemos que muitos, espíritas ou não, ateus ou com alguma religião, dizem as seguintes palavras ou similares no momento da dor: Por que eu? Por que meu filho? Por que ele ou ela? Por que está acontecendo isto comigo? Todas estas expressões demonstram a vontade de entendimento. Portanto, expressam os processos mentais de busca de informação.

Estes processos são capazes, muitas vezes, de “cavar” profundamente na mente e tornar a informação mais accessível. Na grande maioria das vezes, o trabalho não é suficiente em uma encarnação apenas, necessitando, desta forma, de múltiplas encarnações.

É importante evitar novos traumas, atos degenerativos da saúde mental que produzirão outras tantas camadas ao invés de enfraquecer as já existentes.

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PARTE 3


Dissemos que o sofrimento e a dor servem para, na busca do entendimento, o espírito cavar as profundezas da mente e, com isso, soltar as “feras” que estão adormecidas.

Por que é necessário o sofrimento?


1) Pela busca de respostas;

2) A liberação das “feras” gera sofrimento, por este motivo o espírito não permite que aflorem. Porém, se o sofrimento já existir, a sensação é que não poderia ficar pior, assim, muitas vezes, o conhecimento aflora.


Contudo, tantas outras vezes, o espírito se apercebe que desencadearia sofrimento ainda maior e, por isso, prefere manter as “feras” enjauladas. A conseqüência é sofrimento cada vez maior.

O que estamos presenciando no planeta atualmente é uma grande quantidade de espíritos temerosos do sofrimento e, desta forma, paradoxalmente, preferem sofrimentos maiores a conscientização das suas necessidades.

Muitas terapias surgem na atualidade visando livrar a humanidade dos males morais que assolam a sociedade. Poucas logram êxito pelo simples motivo de o espírito não querer o êxito.

Obviamente que muitas terapias são falsas.

Fobias, depressão, traumas, TOCs, esquizofrenia, neuroses, etc. são definições diferentes para um mesmo e único mal que se expressa de formas diferentes.

Vemos no meio espírita, estudos sobre cada um dos “males” como se tratando de diferentes moléstias, que é a visão médica atual. Nestes casos o estudioso espírita trata do problema sob a visão humana e não sob a visão espiritual. Por este motivo é necessário atenção sobre a terapêutica espírita a ser ministrada. Muitas vezes tenta-se correlacionar comportamento com a forma como a distonia se apresenta, o que nem sempre é acertado.

O Evangelho de Jesus é o guia principal para o tratamento adequado e não deve ser esquecido.

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PARTE 4


A vida extenuante do espírito encarnado da atualidade não lhe permite vislumbrar os processos pelos quais passa durante a existência terrestre. Desenvolve, desta forma, tantas mazelas que não se dá conta. Em contrapartida, perde oportunidades fantásticas de estabelecer a saúde física e mental.

Na complexidade do arcabouço mental desenvolvem-se tais quais larvas. Estas larvas não são seres vivos individuais, porém são vivos enquanto criações da mente em desalinho.

Permeando a estrutura mental, ligações são feitas em decorrente do contato, tal qual o contato elétrico, em que estas larvas servem como fios condutores de eletricidade.

Estas larvas são mantidas por pensamentos desconexos e aflições não necessárias, formando comunicações de áreas da mente que deveriam estar isoladas uma da outra.

Percebendo a criatura humana os pensamentos que lhe perpassam a mente, terá condições de reconhecer aqueles que lhe são necessários e, após este processo, perceber os que são úteis.

Percebemos, então, uma escala sobre o pensamento humano, ou melhor, os pensamentos são de diferentes gradações, que são:


1) Pensamentos decorrentes da inferioridade do espírito;

a. Não são úteis;

b. Não são necessários

c. Não tem finalidade.

2) Pensamentos necessários;

a. Não são úteis;

b. Necessários apenas por existir no ser processos que ainda não tem condições de se libertar;

c. Tem a exclusiva finalidade de preencher o que seriam vazios existenciais.

3) Pensamentos úteis.

a. Conduzem o espírito ao processo evolutivo, desenvolvendo a harmonia física e mental;

b. Necessário aos processos benéficos na mente humana;

c. Úteis para um bem maior.


A correta identificação ainda é um desafio ao homem moderno. Até que o processo de autoconhecimento tenha início, sofrerá das mazelas decorrentes de traumas e aflições.

Um processo seguro é preencher com pensamentos úteis o espaço ocupado com os pensamentos apenas necessário.

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PARTE 5


Os flagelos humanos são decorrentes de processos mentais que não possuem finalidade alguma, intoxicando o ser com desvarios, perdendo a noção do certo e do errado.

Fica fácil, diante do que foi apresentado, que os espíritos nesta condição são “presas fáceis” aos obsessores de plantão, espreitando pelas esquinas e portas à procura de um alvo fácil.

Normalmente os processos obsessivos ocorrem com aqueles que são presas fáceis, pois os espíritos levianos, brincalhões e obsessores em busca de aventura para preencher o vazio interior que sentem não estão dispostos ao trabalho árduo.

Por este motivo é que, via de regra, basta leve transformação daquele que se costuma denominar de obsedado para que o processo chegue a termo.

Obviamente que existem processos obsessivos que se prolongam no tempo, decorrente de ligações e comprometimentos anteriores que requerem terapêutica mais específica.

A ligação mental desencarnado-encarnado permite o intercâmbio das “larvas mentais” citadas anteriormente.

Tomemos como exemplo, a guisa de esclarecimentos, o encarnado ingerindo bebida alcoólica e o desencarnado que se aproveita das sensações do encarnado para saciar suas necessidades de satisfação de vícios.

A aproximação do desencarnado ao encarnado desatento para a realidade do espírito propicia a ligação mental voltada para o interesse comum, no caso, a bebida. A partir deste momento forma-se uma “ponte” energética que possibilita o tráfego das larvas mentais que carregam consigo a energia relativa ao efeito do álcool. Devemos compreender que por “energia relativa” queremos dizer que há tráfego de informação, isto é, as larvas mentais carregam a informação que será decodificada pelo hóspede (o espírito desencarnado).

Este processo ocorre em todos os níveis de inferioridade, seja qual for o motivo do interesse comum, pois sempre há grande quantidade de espíritos com interesse nos mais diversos tipos de viciações: cigarro, drogas, má palavra, etc.

Infelizmente, observamos que atualmente existe um movimento no sentido de preencher a mente humana com interesses que não são úteis nem necessários e o ser humano preenche a mente com pensamentos desconexos e nocivos.

Meus irmãos, apesar das dificuldades, perseverem no estudo, no trabalho e conversas edificantes.

Comecemos por limpar a mente dos pensamentos inúteis e desnecessários para, após algum tempo, nos livramos dos pensamentos necessários e ficarmos apenas com os que são úteis.

Muita paz,
Henrique

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